segunda-feira, 26 de julho de 2010

O espaço do desenho e a educação do educador - A.A Albano

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO CAMPUS DE GUARULHOS
DISCIPLINA: FUNDAMENTOS TEÓRICO-PRÁTICOS DO ENSINO DE ARTES
1º SEMESTRE 2010

Profª: Marina Célia Dias
Aluna: Cristilene Carneiro da silva, curso de Filosofia - noturno, nº matrícula: 70-50043

RESENHA DO LIVRO DE ANBA ANGÉLICA ALBANO:

O ESPAÇO DO DESENHO E A EDUCAÇÃO DO EDUCADOR

São Paulo
24/05/2010

O livro de Ana Angélica Albano, “O espaço do desenho e a educação do educador”, trabalha na investigação sobre o desenho e expõe as diversas conseqüências do papel dele na educação e também na vida. É por meio dele que também surge uma reflexão a respeito da arte na formação social do indivíduo, e de como a estreitamos no decorrer do avanço industrial, segregando-a de atividades em que a mesma seria essencial para o nosso crescimento não somente profissional, como também enquanto cidadãos.

Já no início do livro, a autora discorre a procedência da palavra desenho, e sua filologia que vem da palavra “desígnio”, a qual significa projeção. Assim surge o argumento de que o desenho seria a maneira na qual a criança projeta no espaço o seu jogo com os objetos que possui, para além de uma linha sobre a superfície do papel: “... a criança desenhando está afirmando a sua capacidade de designar.” Pois ela responde e se comunica com aquilo que apreendeu ao expressar suas compreensões e vontades ali. “... O desenho como possibilidade de lançar-se para frente, de projetar-se” .

É a partir dessa expressão manifesta pela criança que ouviremos e conheceremos um pouco mais de suas experiências captadas e transformadas, bem como os seus desejos expostos, percebendo, por meio da história por ela construída, os seus conflitos e receios. “O desenho é a sua primeira escrita.” Ele é o gesto e a fala da criança, registrados enquanto escritos infantis. Antes de saber escrever, ela desenha. A projeção do desenho está no ver-se ali, e transformar-se ao rever. A criança interage nesta projeção como num espelho, onde enxerga o seu interior mostrado no papel, depois a sua reação ao ver o resultado exposto, que também interage com a mesma. Eis o poder de mudança da ação de desenhar, por si só. Essa reconstituição da realidade pela pintura. E até mesmo terapêutico, pois “se a criança desenha para contar sua história, encontramos também a criança que não desenha para não contar.” O contar é a ordenação da experiência vivida, as respostas perceptivas, afetivas e cognitivas. Ao mesmo tempo em que é também a libertação no momento criativo, onde se concentram sentimentos juntamente com pensamentos, conteúdos e formas, respectivamente.

Depois dessa descrição a respeito do papel do desenho, há no livro as etapas de desenvolvimento da arte de ilustrar: primeiro se fala dos traços abstratos da criança pequena como sendo exercícios de capacidade para criá-los, os quais ela mesma desenvolve, é a famosa garatuja: inicialmente com retas longitudinais, depois circulares e enfim as “bolinhas” como um esboço para representar algo, nomear: “É a conquista do controle da mão.” Em seguida, é a vez da passagem dessa fase do exercício para a representação, para o símbolo, mesmo que ainda lúdico e imaginário, o “fazer de conta” que se é. Neles a garatuja ganha mais diversidades do que somente o círculo. Tanto a garatuja se modifica quanto os nomes dados a uma mesma, porém a intenção de nomear é permanente.

Como conseqüência dessa subjetividade independente entre o significante(o desenhista) e o significado (o desenho), mas que se inter relacionam, onde o significado pode mudar quem o nomeia e vice-versa, criando um vínculo de cumplicidade, surge um particularismo entre ambos, uma identidade do desenho por meio desse vínculo entre quem o fez e o próprio desenho. Daí o relato da autora de que os alunos reconhecem suas próprias garatujas e, inclusive, as dos colegas. A cor também é relacionada aqui, nesta etapa, logo enquanto um símbolo, e não exercício do traço, daí ela [a cor] aparecer depois enquanto interesse do aprendiz. Ela está principalmente ligada à analogia, última fase do desempenho: nela se segue a forma, o pensamentoe a a exatidão, já a liberdade do gesto, o sentimento e conteúdo são colocados como secundários.

Devido a esse patamar limítrofe que a arte pode alcançar até o racional, detectado no capítulo, é que surge também a comparação entre as proximidades do desenhar para um adulto e para uma criança no momento da criação. Pois ambos podem ser treinados com técnicas parecidas: a predominância do raciocínio sobre as sensações, o contrário, ou o equilíbrio entre os dois. “Criar é o ato de juntar, de conviver com os conflitos e expressá-los”. Porém a pedagoga também diferencia a criação entre os dois dizendo que a criança cria para mudar a si mesma e elabora uma idéia para si, enquanto o adulto o faz em função dos outros, da sociedade, por exemplo. O que não a impediu de trazer a tona o questionamento a respeito dos pintores famosos que buscam retornar às garatujas infantis para se verem mais espontâneas tanto quanto o são as crianças, a ponto de impedir não somente o crescimento e desenvolvimento das mesmas como também o da própria história da arte, conforme o fez Pablo Picasso, por exemplo. “Muito depressa o desenho-fala se cala e do desenho-certeza se passa à certeza de não saber desenhar” .

É nesse meado em que se encontra a maior articulação do movimento argumentativo do livro, onde a autora chega neste ponto entre a criança e o educador a fim de relacioná-los, e estudar o que os segregou. Partindo, para responder a sua problemática, daquilo que os segregou: a ruptura da arte na vida do adulto, por exemplo. A ênfase dada ao problema da distinção entre arte e vida não é à toa, pois aqui se destrincham os motivos da crise onde a educação adentra nos dias de hoje.

Conforme explica no livro, antes das divisões do trabalho, da revolução industrial etc., adultos e crianças participavam juntos, lado a lado, de festas típicas, eventos regionais e costumes culturais. Seja nas músicas, nos jogos, nos artesanatos... A segregação veio da necessidade de impor preconceitos para tirar proveito e se alcançar poder sobre algum sacrifício. Com a modernidade, por exemplo, surge o novo conceito de “escola”, e os respectivos julgamentos e organizações autoritárias consequentemente gerados: infância e adulto, aluno e professor, menor idade etc. Assim, com o passar do tempo esta “evolução” cada vez mais efêmera trouxe também a ultrapassagem do papel da família, com a mulher ingressante no universo do trabalho, por exemplo.

“As cidades cresceram e não incluíram as crianças no seu crescimento. E a criança hoje, morando numa cidade grande, não tem espaço para a sua brincadeira. A cidade cresceu e a família diminuiu.”

Mais um problema social dessa conseqüência, não só às famílias em particular, mas à sociedade, que traz a criança em si como um problema social no qual ninguém mais possui tempo suficiente, porque passaram a ser dependentes, a não ser a escola. Além de terem perdido o seu espaço lúdico e livre, tornaram-se dependentes de autoridades as quais se impuseram e depois as abandonaram... Então, com a única alternativa, a escola passou de lugar de aprendizagem para lugar de convivência. Enfim: uma grande praça onde se sentem “seguras”, já que a sociedade não as assegura, elas carecem de cercas que possibilitem a sua criação...

E é essa relação de poder imposto à criança que esclarece o porquê ela deixa de desenhar. Pois suas formas de expressão são condicionadas ao padrão desde que sai do lúdico de sua garatuja para imitar o modelo de perfeição do traçado e a exatidão que a tecnologia industrial pede, que a ciência da inteligência e não a arte da expressão, impõem nas disciplinas escolares: “a alfabetização se apresenta como uma saída viável para ocupar as crianças e satisfazer os pais.”

O currículo escolar está minado de serventias tecnológicas que correspondem às indústrias e empresas mas não à educação. O poder das disciplinas lógicas sobre as artísticas e humanitárias vem desta segregação onde não há mais espaço para a apreensão de conteúdos lúdicos e emocionais _ os quais fazem parte de nossa cultura _ em matérias que não o são ou se quer auto caracterizam-se como tais e nem utilizam a arte para o seu ensino. “A arte reclama o homem inteiro, e o processo escolar fragmenta, dividindo em compartimentos geográficos, matemáticos, históricos, ortográficos, científicos e artísticos.” O papel do desenho é derrubar essas cercas e fazer parte da vida, da cultura, por meio da arte educação, por exemplo. Pois ele pode ser abrangido em quaisquer matérias e é referido para diversos aspectos da vida, não podendo ser simplesmente desfalcado pelo utilitarismo ou pela domesticação dos prazeres e desejos da criança dentro de um espaço reduzido e paralisado como são hoje muitas ou a maioria das salas de aula. Como são as relações mecanizadas do desenho sempre paisagístico da “casinha” com a “arvorezinha” e o “caminhozinho” padronizados para serem, além de tudo, avaliados com nota... Como são a dominação sobre o aluno e a uniformidade do ensino sobre a sua expressividade, quando se faz um desenho no mimeógrafo já pronto para somente se pintar, concordando-o, sem nenhuma instrução crítica a respeito. Como é a repressão e passividade que os mesmos implicam sobre o aluno.

A conclusão do estudo encerra uma definição crucial a respeito do que venha a ser desenvolvimento, no âmbito de formação cultural em que tratamos aqui: está relacionado à atitude pessoal e única, artística. E não enquanto pacífica e uniformizada. Porém a autora não expõe somente soluções como também constata o quanto as próprias crianças permitem esta submissão pelo fato de seguirem o adulto, o gosto pelo julgamento, pelas premiações e até avaliações do desenho já reprimem o conceito e o valor de Beleza do aluno, ensinado pelo professor:“as crianças são extremamente vulneráveis aos comentários dos adultos, especialmente quando sabemos que o desenho expressa a criança inteira” .

Mas em minha opinião isto pode mudar com o simples fato de manter a criança ciente de que pode criticar, indagar e até mesmo esta concorrência saudável de ser avaliado e ganhar competições pode ser melhor elaborada para um pensamento e costume onde todos vencem, ou pelo menos quem se afirma com atitude autêntica e justificada, consciente, não aquele que somente aprende a obedecer. “Começar a se perguntar do porquê de tão pouco tempo e tão pouco espaço para a atividade de desenhar. E se indagar ainda, onde está o seu próprio desenho: em que tempo e espaço ele se perdeu.” É livrar-se das resignações para livremente designar-se.

BIBLIOGRAFIA

MOREIRA, A. A. “O espaço do desnho e a educação do educador.” São Paulo: Ed. Loyola, 1991.

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