segunda-feira, 26 de julho de 2010

em: 13/08/05


Disciplina: Coreografia para o ator

Comentário da entrevista com Kazuo Ohno



“O DANÇARINO DO INVISÍVEL”



Nessa entrevista com o bailarino Kazuo Ohno, foram abordadas questões à respeito da beleza e da autenticidade de sua criação em “Admiring La Argentina”. Onde ele dedicou parte de sua vida neste trabalho voltado ao estilo Butoh.

Na sua autenticidade, as perguntas foram em relação à forma do seu jeito de dançar comparado com as outras danças, tanto as orientais quanto as ocidentais. E a beleza citada, ficou por conta daquilo que o influenciou, do seu processo e do resultado da sua concepção de dança.

Pelo que foi lido na reportagem, hoje Kazuo Ohno é uma presente lembrança, um significativo dançarino não só por dançar, mas como por ser uma essência.

Porém, houveram algumas frases e assuntos que mais me atraíram:

Segundo o que foi publicado sobre o significado do Butoh introduzindo a entrevista, seria

...“o desejo de aniquilar o corpo, de torturá-lo, para que ele possa revelar sua verdade. A carne é negada para ressaltar a tensão do espírito”...

Mas revelar qualquer verdade através de algo que mal sabemos direito sobre, e se se separam; o corpo do espírito, seria algo muito duvidoso de se fazer. Pois se fosse o contrário, juntos; o corpo poderia sofrer torturas, mas o espírito também o sofreria! E isso não nos mostraria nada a não ser a nossa própria ação de querer deteriorá-lo... Então, estaríamos de fato, ressaltando ou aniquilando o nosso lado espiritual?

...“Sempre achei que sua arte ( La Argentine) era uma autêntica ponte entre o céu e a terra. Trabalhei anos como professor, sempre ensinando movimento e dança. Mais ainda hoje tenho dúvidas se a dança é algo que possa ser ensinado. Acho que é alguma coisa que alguém tem de descobrir por si mesmo. Hoje me sinto como um estudante, e não como um mestre. Eu não ensino dança, estou sempre na posição de aluno.”...

Um pouco da trajetória do bailarino também me mostrou sua característica de busca, de sentir-se desconhecido e aberto às descobertas.

O trabalho que ele quer é algo vivido e não explicado: ”penso que a arte é o nível mais alto a que pode chegar a expressão humana”.

Neste ponto, da arte não ter explicação, eu concordaria se fosse referente à arte como meio de expressão, e não mesmo de explicação. Mas no decorrer de sua frase, ele entra em contradição:

“E o principal objetivo da arte é transformar a vida. A arte é sempre relacionada com a vida e a morte, a alma e o corpo. Algumas vezes é impossível ao pensamento lógico compreender isso. A arte tenta desvendar o mistério de viver e morrer.”

Não sei se foi o que ele quis dizer, mas deu-me a entender o favorecimento de uma arte utilizada para aconselhar e para transformar algo no que seria certo... Se o entendido estiver correto, acho que a arte não deveria servir de conselho, mas sim para exprimir sentimentos e deixar o público consciente do valor de tal sentimento apresentado no momento em que se apresenta...Provocar, cutucar a transformação da vida. As pessoas é quem farão isso, ou não!É claro que ela está profundamente relacionada com a vida, morte, corpo e alma, mas não tenta desvendar nenhum mistério, quem o deve fazer são as pessoas. A arte só nos instiga. Ela serve de aviso, e não de conselho. É uma expressão, e não uma explicação. Pois sem a certeza de um caminho, seria hipocrisia da parte dos artistas, indicá-lo, quanto menos transformar a vida de alguém. Quando o próprio Kazuo se põe na posição de aprendiz, a sua tentativa de aconselhar um caminho certo torna-se inválida por ainda estar em busca de um...Por isso, acredito que o sentido da frase tenha sido outro, assim como ele mesmo disse: ”algumas vezes é impossível ao pensamento lógico compreender isso”.

“Na verdade, a dança que alguém pode ensinar e o outro aprender não é tocante, não atinge a emoção das pessoas.”

Então, a dança para ele, ao meu ver, origina-se da correspondência e do entendimento de uma comunicação espiritual. É uma relação não só do artista como também do público que presencia a cena. Independente se ela desvenda, ou apenas exprime suas dúvidas sobre a vida.

“A principal diferença entre nós é que os ocidentais procuram explicar as coisas logicamente, intelectualmente, enquanto que nós sentimos através da alma.”

Com esta discussão, Kazuo diferencia o seu trabalho, o ocidental e o oriental. Por meio da tentativa de nos fazer visualizar o que ele propõe. Nesta comparação feita por ele, aprendi a entender algo sobre a dança oriental. Pois minha impressão era inversa: os ocidentais mais fixados na alma e os orientais mais voltados para a logicidade. Pude compreender que é o contrário, segundo ele. Mas senti que ele tem um carácter ocidental também. Principalmente quando ele diz que vê a “dança ‘La Argentine’ como parte da criação entre o céu e a terra, um reflexo da união do homem com a natureza”, podendo até ser este, um pensamento de possíveis afinidades com o de Klauss Vianna, cuja origem é ocidental, e segundo algumas observações de seu livro “A dança”, também há uma “idéia do homem e do mundo evoluindo no contexto de uma dança cósmica”

Mas essa “busca constante da transcedência, da espiritualidade na maneira de agir e pensar do povo japonês” foi o que me interessou e surpreendeu mais. Pois todo meio de fazer arte, é bem vindo no caminho de minhas experiências...Às vezes não saber aonde ir, nem sempre só prejudica: poder perder-se numa ampla viagem para achar um caminho pode abrir portas para diferentes fontes, sem fechar uma meta ou um traçado a cada passo dado. Ter uma visão mais panorâmica e espacial da trajetória onde percorrêmos, antenando-se à maioria de tudo o que acontecer em redor. Este, por enquanto, acho que seria o mais adequado pra mim; Nunca ter um caminho certo ou uma resposta permanente para se apoiar e nem para se acomodar. Com isso, o sentimento de busca se instala e miramos cada vez mais longe, embora a caminhada constantemente passa a parecer cada vez mais longa...

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