quinta-feira, 10 de março de 2011

Capitanibalismo

Qualquer suco de melancia
já me deixa tonto
porque comida é terapia
onde enfim desmonto

Cerveja, morango, amor, batatas
tudo me resta comer
valer o viver de morrer às baratas
e devorar qualquer sofrer

Desejo de demasia nas migalhas
re produção progre e agressiva
máquina autótrofa de facas
garfadas no suor dos olhos

Tempero na salada de árvores
ao molho de enchentes de lama
gado assado no forno à queimadas
na bandeja do pasto de Roraima

Pré-sal à gosto de quem devora
cana, cevada, soja, eletricidade
tem boca faminta à qualquer hora
com sede de beber nossa energia

Suco de hidrelétricas no canudinho
mas agite bem antes de usar
vem com gás natural da metrópole
retire a tampa sem o lacre quebrar

A sobremesa é servida à rolê
um rolê pelo Faustão,
cochão duro à venda na TV
pastéis e lasanhas de presuntos

Limpe a boca com papel jornal
a sujar a boca mas passar o pano
a poeira no dente do Pantanal
arrancada no madeiral do palito

Mas a delícia maior é a miséria
o doce morro de açúrar e flocos
flocos bombas de bala crocantes
cristais motores em bloco

Esbaldam-se as crianças gulosas
distraídas pelos carrinhos
assim comem tudo, mães orgulhosas!
Crescem cada vez mais fortinhos!

Cada vez mais carinhos
quantos caros miudinhos
o amor não tem distância
pra quem tem seu carrinho

O amor não tem arrogância
pra quem mata de fininho
prepara o bote com elegância
depois come com nosso jeitinho

Fio











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SEQUESTREIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
O
PER
PENDI

LAR
DO GULLAR


Elo

O xamã é um elã
o cangaceiro é o elã
a francesa é o elã
o darwinismo é o elã
o bergsonismo é o elã
o nostalgismo é o elã

O mar é o elã
o surrealismo, a foice,
os Beatniks, os hippies
e os emos são elã

A inteligência, o sexo
o psicodalismo, a música
o yoga, o induísmo, a aurora
nietzsche é o elã

A cerveja e as drogas
os amigos, a vodka
os conceitos, desconsertos
o lápis, o desenho, a quimera
as nuvens, o verde, o terreno baldio
a esperança, a poesia...

Os artigos, os partidos, as artes
os batuques, os ameríndios
a cerâmica, Belém, Mato Grosso,
Xique Xique, Tom Zé

A física quântica e o budismo
Astrólogos, astros e estrelas à miúde
Zé Ramalho, o sol. O fim, o começo,
a filosofia. A nostalgia de novo.
Os Chicos, os prismas geométricos
as clarividências religiosas

Palavras, cantadas, samba
o agora, a lua, o dia
a brisa do cabelo, a cama e a mesa
O baaaanho, a cachoeira
as flores e a comida
os cheiros

Cheiro de café, o Brasil
o consumismo, o cocô,
o barril de petróleo, o futebol
o Mc Donalds, o cinemark

Os orgasmos, os fingidos
os vômitos, o ônibus,
o vômito no ônibus, o barulho
o celular e o mp3, o caminhão

A criança barulhenta, o rock,
a bicicleta, os pneus, os pássaros
os olhares, a serpentina, o rio
o churros, o tatu-bola,
a jaca podre, a melancia doce
o teatro, menos o amor.

Saudade

Muita gente passou
agora ficam
porque eu fui

Muita gente ficou
agora eu era
porque tudo passava

quarta-feira, 2 de março de 2011

Sem

Sem que nada precise acontecer
Mesmo que nada aconteça
Quando se esquece o vir a ser
Sem que ninguém de nada esqueça

Sem que nada de tudo se precise
Mesmo que tudo se vá de si
Quando há lembrança do deslize
Sem que algo ou alguem se viu

Mas alguém se viu sem que algo
lembrasse do deslize quando havia
tudo que foi de si mesmo que
de tudo se precisava sem que nada

De nada acontecia sem que ninguém
Viesse a ser quando se esquece
e nada acontecesse mesmo que
Precisasse acontecer nada