quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Consolidação



Porque se insiste em pegar nesta mão furiosa e cheia de dedos? A insistência se tensiona e atenta. Não tenta. Mas os dias são. A lousa, cheia de causa e coisa, cousas. Puro papo de prosas. Isso pode ser uma joça, mas é do que se gosta. Gozado, de tu eu faço um mato, teatro. Não eu, mas me ato. Se é com o achar que eu te faço, então agrado o meu tato e te meto em mutretas, assim não me mato! Letras bestas destoam se suam além de soar, mas nessa se entoam, rimam feito testas lambidas das divas. Não, atestado está o divã de lado e com a solidão fica o medo, consolidado. Não lide somente com o só lhe dar...

repppppppprodução positivista

Professor pausa o pensar
porque por ele dispensa
pôs partes no ponto
parou Platão e pronto

Plantão de povos em pauta
plantou pontes no possível
passou do impossível
priorizou nossos predicativos

Pelas palavras, plenas plantas
explodem profecias expulsas
pelo pomar da imperfeição
desesperado expõe a repetição

Apreciação passiva e par              
por punir as penas e planas
aprofundar a política pública
e propôr pular o polar

Pinta de espanto
pois privou o primor
prova surpreendente
supriu a patente pelo amor
presentificou o passado

provocou o poder especial
da essência patrimonial
com seu simples despudor
de exemplificar com respostas
as perguntas de apostas

O cabelo

Ah, crescida em tua cabeça
não adianta me raspar
mesmo que você esqueça
é natural que eu apareça

É careca de saber
tem razões pra me cortar
até cansei de renascer
se jamais vai me aceitar

Só queria me debruçar
nas orelhas um cantinho
penteada em tuas mãos
ser presa do teu carinho

Caminho sempre abro
balanço, abano feito louca
bagunçada, caio em roupa
retirada do peito, desabo

Mas tu não me acolhe
recolhida pelo caos
embaraçada em poeiras
até que sua mente de novo
nova mente me queira


domingo, 22 de novembro de 2009

Fora d'água

Bem-te-vi desesperado
um tornado afoita
depena o transe à fora
vai triturado na moita

Fanático se balança
uma madeira o conforta
acolhedora raiz morta
tende acalmar o fôlego

Sôfrego pássaro preso
tanto pula feito ileso
que o abraço da árvore
só o traz frio e peso

Eis teu segredo
morno ar sufocante
calor que o dá medo
brincantes foguetes

Faíscam ardentes
sobem pelos arbustos
minas de fogo corrido
queimam o tronco opaco

Oco, explodem-lhes cinzas
chuva de brasa amiga
pingos de terra branda
afogam tua sede vândala

Pregados em folhas
deslizam os dois
livres de entraves
fortes como bolhas

àMar-te

Não quero te ter
não quero te mandar
sequer te reprimir
ou te emoldurar

eu vim pra te manter
em nosso modificar
artesãos desse viver
com sabores de envolver

contemplar essa beleza
natureza é o amor
retratá-lo é uma riqueza
que a arte nos mandou

já amo arte
não preciso de vênus
juntos no veneno
só quero fazer parte

de amar-te
dê-se a terra
que amor não é guerra
é um pequeno passe

afinal

Poentetermo               põetemor e pó
               mornonotempo
            

sábado, 7 de novembro de 2009

sui realis






Ontem fiz amor com o mar
areia absorvida, ah mar!
a encharcada te encontra
na onda a adentrar em mim

A mais inteira no mergulho
olha pra cima e blues!
a nuvem tocava barulhos
em forma de sabiá ou urubu?

Nenhum, n' outra era avião
minha parte divina também cética
pra amar assim o marasmo
a deixar o céu com a estética

Então voei e pulo a espuma
da água ao ar
já abracei tuas calúnias
agora volto a res pirar

Teu empurrão de beijo
deixou-me deitar
nos elementos de desejo
n'areia pouso a queimar
a secar castelos de lama

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Autor


Mi(s)tos

Até suas palavras soam
trans piram
meus ouvidos voam
deliram no banhar

Refresco que absorve
pelo olhar a dizer
quanto és límpido
teu esbaldar o meu tímido

E ao íntimo se dissolver
a nadar em meu tímpano
jorrando rios de seu viver
relampejos de ser, Ícaro

Chuva de fogo
explodia os trovões
limpando o lodo
lambuzado de razões

Ávido silêncio eloquente
emanava latente energia
voz dos corpos que expandia
a preencher todo o presente

Tela

Da fumaça barbarulhenta
dos farelos nebulosos
do vento em cada assento
dos impulsos perigosos

Faz no chão um aumento
envolta de cumprimentos
a arrebatar sua coragem
numa margem atrelada

Corrida levanta a imagem
o peso da beleza carregada
flutua como giz no papel
desenho da vida interpretada

No lamber do pincel
é pendurada a sua morte
mas depositada a sorte
nas cores do grito

Apoio ao peito
obrigado a florir
enquanto o pretexto
era na luz sumir

Giz branco espalhado      no infinito
com a extravagância dos conceitos
rabiscados num desvario
até a tela do vazio

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Compra-se

Escrito em 11/2008 para um exercício do centro de dramaturgia contemporânea:


COMPRA-SE




PERSONAGENS:

Criança
Vendedora


(Dentro de uma galeria, um Box define o espaço de uma loja. Um balcão separa e mantém a vendedora ocupada com qualquer coisa lá dentro. O personagem da criança passeia exibidamente pelas vitrines e pára em frente à loja de jóias.)



Criança: _ Vai ser essa daqui! Essa aliança, moça.

(a vendedora continua entretida nas jóias e não o escuta)

Criança: _ E-êi! Tô falando com você, não lava o ouvido, é? Quer fazer o favor de me atender?

Vendedora: _ Ah, não escutei, desculpe, o rapazinho quer alguma ajuda, tá perdido de alguém?

Criança: _ Eu falei que quero a aliança que tá no balcão.

Vendedora: _ Espera um minutinho enquanto eu termino isso? Assim dá tempo da pessoa que veio com você chegar pra verem juntos, mas pode ficar à vontade e qualquer coisa me chame, ok? ( vendedora volta-se pra o que estava fazendo antes)

Criança: _ A pessoa que veio comigo? Quem?

Vendedora: _ Ora, você não veio com a mamãe, o papai, ou alguém mais velho? Então...

Criança: _ Não, você tá vendo alguém mais velho aqui? Não tem ninguém, não. Eu vim só, com as minhas pernas. Ah, e com dois seguranças que ficaram lá fora.

Vendedora: _ Seguranças? Engraçado, você não me é estranho... O que um pequenino faz nesse shopping sozinho? O que quer com essa aliança, é presente?

Criança: _ Credo, como é xereta! O que eu vou fazer com a aliança não te interessa, eu quero levar porque gostei e pronto acabou. Vocês aceitam cartão?

Vendedora: _ Cartão? Sim, mas...

Criança: _ Mas o quê?

Vendedora: _ Não vendemos para pessoas com documentos de terceiros, só pessoalmente...

Criança: _ Como assim? E eu não estou aqui, pessoalmente? Por acaso tenho cara de imbecil ou o quê? Sou de carne e osso, vivinho da silva! Vou comprar sim, não tem terceiros, o cartão é meu!

Vendedora: _ Mas também não aceitamos compras feitas por... menores... sem a autorização de um... titular... no banco, entende, mocinho? Infelizmente ‘não vamos estar podendo fazer’ nada por você...

Criança: _ Ah, você pode não ter o que fazer, mas eu tenho: vou comprar esse anel sim! Com o meu dinheiro, minha conta e todo documento que você precisar, eu tenho tudinho aqui, quer ver? Mas que saco, hein... Eu vou ter que te mostrar quem sou pra me reconhecer?

Vendedora: _ Tudo bem, eu posso até olhar, mas... (pegando os documentos que a criança entrega pra ela) Quantos anos você tem?

Criança: _ Está ai no meu RG, ou você não sabe ler?

Vendedora: _ Nossa! Mas como arranjou toda essa papelada? Você ainda não é independente, precisa de um responsável pra assinar por você!

Criança: _ Eu te dou até meu autógrafo se quiser, não sabe quem eu sou? Idade não é documento, e eles eu já te entreguei. Eu já sou dono do meu nariz, o resto o meu dinheiro paga! Por isso eu vou comprar sim, o comprovante de renda também já tá ai, agora eu quero a aliança!

Vendedora: _ Incrível como tá tudo certinho mesmo, não sei como... Se você cuida disso tudo, quem cuida de você, menino? Isso é muito fora da lei, como você conseguiu tudo isso registrado? Você tem até carteira de trabalho assinada!

Criança: (com ar muito formal) _ Claro, sou apresentador profissional de uma emissora de TV, daquele programa “Brincar de ser fofinho”, agora se lembra de mim? Então... Vai dizer que isso é crime? E você, quem pensa que é pra me fazer tanta pergunta?

Vendedora: _ Nossa, você é igualzinho como aparece na TV: chato mesmo... Digo, pessoalmente é muito mais conservado, quer dizer, mais novo e tão pequeno que...

Criança: _ E olha que não é todo dia que aparece alguém assim como eu por aqui, hein... Como boa vendedora é bom aceitar logo minha compra, e fazer o seu serviço. Se não eu vou ter motivos pra sair da lei de verdade e mandar meus seguranças armados virem fazer você me entregar o anel!

Vendedora: _ Ora, mais essa! Eu não acredito no que estou ouvindo de um pirralho desses! Você tá me ameaçando de assalto e ainda pelos seus próprios seguranças? Cadê a inocência dos seus nove anos de idade, garoto?

Criança: _ Envelheceu, nove anos já é muito, tia! Ninguém mais é inocente...

Vendedora: _ Eu vou chamar a polícia se você continuar insistindo e até me ameaçando desse jeito pra eu te vender o anel!

Criança: _ Pra você ver como são as vendedoras de hoje, né? A gente consumidor é que anda fazendo o papel delas, ter que apelar pra compra, já que elas não vendem...

Vendedora: _ Escuta, eu só não vendo porque você está tomando muito do meu tempo, atrapalhando o meu serviço! Porque você não vai brincar e me deixa trabalhar sossegada? Eu não quero complicação para o meu lado, mas desse jeito vou ser obrigada a tomar outras providências...

Criança: _ Chama a polícia então, você não ia chamar? Mas acho que eles vão ter mais trabalho com vocês da loja do que comigo... Bijuterias com nome de jóias, penas de animais em extinção pra fazer brinco, loja no meio de outras que vendem roupas e cd’s piratas, isso tudo tem alvará?

Vendedora: _ Com quem você aprendeu tudo isso? Além de irritante todo espertinho! Isso não é da sua conta.

Criança: _ Então porque é da sua investigar a minha vida e não deixar eu comprar só por causa da sua curiosidade? Daqui você não vai me tirar nem me atirando pela janela, daqui eu não saio daqui ninguém me tira, só quando conseguir a aliança...

Vendedora: _ Nossa, aí está um bom negócio pra convencer cliente: você não quer trabalhar com a gente não? Eles tão precisando de alguém chato assim, eu sozinha não dou conta do recado...

Criança: _ Não, não, muito obrigado! Deus me livre trabalhar aqui! Cruz-credo... Para o seu governo, já estou muito feliz e satisfeito com o meu trabalho! Engraçado... Agora você é quem quer contratar menores de idade e violar a lei, é? Passa logo o anel se não eu chamo a polícia!

Vendedora: _ Eu não posso arriscar o meu emprego, garoto!

Criança: _ E se você também ganhar alguma coisa com isso? Quanto quer ganhar em troca? Pago até o dobro do preço...

Vendedora: _ Pagar a mais? Eu é que vou pagar caro se te vender! Não compensa... Já ganho muito pouco por mês, mas é melhor do que perder o emprego.

Criança: (conquistadora) _ Olha que a oferta tá boa, você não vai achar isso com outro cliente, é pegar ou largar! Eu quem merecia um desconto de vocês, sabia? Mas tudo bem... (tirando o dinheiro do bolso) Tó, segura pra mim rapidinho?

(a vendedora segura o dinheiro que o menino lhe entrega)

Criança: _ Ah! (cantando) Enganei o bobo na casca do ovo! Você caiu nessa, vai ter que me entregar o anel, agora que já pegou no meu dinheiro eu não aceito devolução!

Vendedora: _ Mas eu não disse que tinha aceitado te vender, você só pediu pra eu segurar ele pra você, seu pilantrinha!

Criança: (começa a chorar) _ Eu vou falar pra todo mundo que você me roubou, vou chamar a minha assessora de imprensa pra te colocar no jornal e depois ir presa! Olha que eu faço um escândalo se...

Vendedora: _ Tá, tá bom... Chega disso, vai! Não precisa mais fazer manha. Mas você vai ficar sem nota fiscal! (pega a aliança para entregar ao menino, mas recua de repente ) Só mais uma condiçãozinha pra te entregar: antes quero saber o que um menino do seu tamanho vai fazer com isso.

Criança: _ Dá a aliança primeiro que depois eu falo.

Vendedora: (entregando o anel na mão da criança que já vai saindo mas é impedido pela vendedora)
_  Pronto, agora já pode responder minha pergunta.

Criança: _ Ah, não vou fazer nada demais, não. Só vou ... Brincar de passa anel! Quer?

(vendedora ri com reprovação e vira as costas pro menino, voltando-se para o serviço que fazia antes dele chegar, o menino dá de ombros e sai correndo.)