segunda-feira, 26 de julho de 2010

Danto em: "A obra de arte e meras coisas reais"

SEMINÁRIO SOBRE O CAPÍTULO 1:

“OBRAS DE ARTE E MERAS COISAS REAIS”
DO LIVRO “A TRANSFIGURAÇÃO DO LUGAR COMUM”,
DE ARTHUR C. DANTO

Nome: Cristilene Carneiro da Silva
Professores:
Francisco De Ambrosis P. machado
Jens Michael Baumgarten
Unidade Curricular:
Estética e História da Arte
São Paulo, 15 de novembro de 2008


“OBRAS DE ARTE E MERAS COISAS REAIS”

Depois de ter examinado o conceito de Mimesis como representação das coisas reais, Danto recorre às concepções de Nietzsche para iniciar uma diferenciação entre os dois significados possíveis da palavra representação.

A explicação sobre os dois significados de representação seria que um é fundado no mistério, originário dos rituais de culto a Dionísio o qual era a sua apresentação constantemente presente nos momentos de inconsciência que designava este primeiro sentido da palavra como decorrência da re-apresentação. A segunda definição é a de substituição, em vez de Dionísio aparecer, ele era representado pelos sujeitos entorpecidos que eram destinados a representá-lo no momento mais desprovido de pudores ou sobriedades humanas por meio dos instintos mais primitivos e demolidores de quaisquer raciocínios ou moralidades (esses sujeitos eram nomeados como aner e hipócrites, os quais foram substituídos pelo herói quando tal acontecimento também se modificou para a tragédia).

Dessa distinção entre reapresentação e representação, surge a aparição e aparência respectivamente associados aos dois conceitos. O primeiro ao que de fato se manifesta com a própria presença, por aparição e o segundo como o que substitui algo já apresentado, por imitação. Daí o autor introduz a ambigüidade do conceito de representação resultar em outras confusões a respeito das palavras que se derivaram com significados muito próximos, porém também distintos, tais como: aparição e aparência. Quando aparecer seria o fenômeno e aparência a imitação. Uma distinção maior entre os termos é feita no decorrer da história helênica com o surgimento das artes aproximadas da imitação separada da religião como magia ou aparição.

Porém o pequeno descuido com tais conceitos fez com que tal ambigüidade se evidenciasse mais quando o poder da imitação se misturou com a crença na aparição ou realidade. Danto observa o perigo de tal confusão e exemplifica a magia depositada num objeto imitado devido à crença em sua realidade na falta de um distanciamento maior devido à similaridade de uma obra com o real. De como uma pedra acaba por transformar-se num Deus ou mesmo um Deus em várias pedras, conforme cita. Nesta parte do texto assim como em outras a seguir, o filósofo se aproximará do pensamento de Platão fazendo referência sobre a sua tentativa de desfazer tal semelhança entre a aparência e a realidade.

O argumento com que Danto conclui o problema da aproximação com a realidade que uma representação pode trazer por meio da crença em determinada imitação de um objeto é que um objeto, quando substituído, já está distanciado do público o qual passam de testemunhas de uma aparição para agora admiradores, longe daquele ser divinal que não está mais presente. Por isso o sentido de imitação na mimesis é mais forte do que o de aparição. Nisso está desenvolvida a explicação do autor sobre a arte no âmbito da representação e não da re-apresentação.

A substituição das características de um objeto pode ter as mesmas formas, mas não a possuirá de fato. Danto faz mais uma designação gramatical aqui, quando coloca as características como possíveis predicados e a posse como algo intrínseco no objeto. Mas com exemplos da preposição “of” [de], concebe a dificuldade de diferenciação entre a aparência de uma coisa e a coisa. A linguagem é quem diferenciará, unicamente por concepção, o significado do signo, ou seja, o predicado enquanto característica conceitual e o sujeito.

Depois de ter esmiuçado a questão da representação e designado o seu exercício enquanto similaridade, Danto leva esses resultados agora para o plano que tratava anteriormente e retorna à mimese para ressaltar o quanto ela está diretamente ligada à representação e por isso também pode ser confundida com a realidade assim como a realidade com ela. Assim a próxima exposição é sobre a mimese também levar em conta somente este critério de verossimilhança ou representação. Expõe uma observação de como o teatro, principalmente, necessita dessa concepção convencional de mimese para diferenciar-se do real, como citado acima.

A partir da proposta Kantiana é que Danto inicia articulando sobre como a falta de aparição da coisa em si e sim somente das suas representações, mantém um invólucro delas sobre todos os objetos segundo essa filosofia crítica e descarta a idéia de representação como um diferencial da mimese. Ainda remetendo-se à Kant, nota que este expande a mimese para outra coisa que a diferencie: uma atitude em relação ao objeto, ou a falta dela. Pois Kant não concebe a arte como uma atitude prática de um objeto ou como uma utilidade e sim sobre um distanciamento dado pela contemplação. Mas como tal distanciamento passivo pode valer para qualquer coisa (a partir da consideração dos fenômenos como representações), então pode-se lançar um olhar estético para toda e qualquer coisa, não só para uma obra de arte. Por isso Danto invalida esse olhar crítico como um critério de diferenciação entre a obra e a realidade. Assim como ainda complementa que essa passividade em tal atitude estética faz com que se aprecie tudo à moda contemplativa, seja a violência nas ruas ou a imitação de tais violências pela arte, pois afirma que o distanciamento crítico faz com que contemple-se um problema real e não anime o espectador a uma atitude maior, além desta.

“Tom Stoppard disse certa vez que se você vê uma injustiça acontecendo do lado de fora de sua janela, a coisa mais inútil que poderia fazer seria escrever uma peça de teatro sobre uma injustiça ante a qual temos a obrigação de intervir, já que elas põem a platéia exatamente naquela espécie de afastamento que o conceito de distanciamento psicológico pretende descrever”¹

Com isso mais um critério é descartado de sua pesquisa: o da arte ser fundamentada na inutilidade e desinteresse pacífico. Mas reconhece haver momentos históricos com tais características de desligamento social frente à arte, assim como outros com um comprometimento didático, expiatórios etc.

Dessa consciência do distanciamento de uma obra quando se sabe de sua condição enquanto irreal, é que Danto prossegue o assunto sobre tal convenção. Ele associa a citação feita num palco como uma espécie de aspas neutralizadora. Diferente de uma afirmação dada na realidade a qual nos faz reagir. Essa abdicação as responsabilidade sobre a expressão em forma de arte delimita a mimese somente como uma convenção ou até uma oportunidade à parte de pronunciar a realidade fora dela. E do quanto esse convencionalismo propicia uma liberdade artística, até mesmo para romper a divisão entre a vida e arte, propositalmente. Novamente o filósofo cita Platão quando faz referência do quanto este previu tal liberdade usurpadora da realidade, devido ao intrometimento que a arte poderia fazer na realidade.

Isso que Danto nomeia de convenção é metaforicamente explorado de diversas maneiras no texto, ora chama-a de “parênteses”, ora “aspas”, enfim, infere-se que pode ser concebido como aquilo que fica fora de algo, invalidado. Agora o filósofo expõe as questões negativas de tal aspas como, por exemplo, a capacidade de inibir a crença no que está sendo imitado, por mais semelhante que for a mimese a consciência de que aquilo não é real impede uma confiança. Se, como expõe um exemplo, um ator é realmente esfaqueado em cena mas ninguém o acredita por não haver este espaço para a realidade naquilo que é uma imitação.

Depois retorna a enfatizar numa necessidade de rotulação do que é arte para que haja um entendimento e não um estranhamento. Utiliza aqui de situações inusitadas tais como um médico que pratica corrida pelas manhãs mas já com seu traje de trabalho, o estranhamento seria pensar algo diferente do que acontece, que está atrasado, por exemplo. Ou mesmo um homem que late no meio da rua, considerado louco porque não está em cima de um palco. Danto expõe tais circunstâncias a fim de questionar se a convenção seria realmente um critério da mimese.

Mais uma vez há uma pausa no capítulo para uma análise mais aprofundada sobre a última questão: até quanto esclarecer que algo é uma arte ou não, por meio da ilusão ou do distanciamento? Para isso Danto retorna ao texto Da Origem da Tragédia de Nietzsche a fim de localizar o socratismo de Eurípedes para responder a tal pergunta.

Primeiro ele confirma a crítica a Eurípedes feita por Nietzsche pelo fato de o tragediógrafo deixar muito evidente sua convenção, sua moldura, racionalizando-a e deixando muito bem explicada. Danto descarta tanto a semelhança quanto a convenção em demasia como bases da arte, pois diz não haver uma finalidade para tamanha retratação da realidade, e cita Nelson Goodman: “Uma só dessas drogas de coisas já é o bastante”. Afirma que a realidade pode sim ser uma referência para arte, mas não que a arte precise necessariamente segui-la da maneira mais exata possível. Além de considerar ocioso e parasita uma imitação idêntica à realidade. Conclui que a arte precisa de ter caráter de arte, por meio de algo que reconheça a sua identidade com veemência. Mas ainda não descarta a realidade ou a própria imitação como participantes influentes em seu significado. Pois argumenta que o prazer de reconhecer a mimese é já saber sobre a realidade que se imita. Conforme Aristóteles, primeiro conhecer a realidade para depois reconhecer a arte.

Mesmo com essa relevância sobre a arte e a realidade, Danto não perde o foco de seu pensamento sobre a necessidade de diferenciação entre a arte e a realidade. Finaliza sua reflexão sobre ilusão e distanciamento depois de reforçar essa necessidade. Pois conclui que a ilusão não necessariamente precisa estar na ação da mimese, mas no ponto de vista sob uma outra ótica, misteriosa quando comparada àquela a qual se vive.

Após a referência nietzschiana, o filósofo reconhece que nem a verossimilhança nem a descontinuidade são de acordo com o fundamento da arte. Pois as duas se anulam, uma por não ter nenhuma outra finalidade além de ser uma cópia da realidade, que já existe. E a outra por ser tão diferente como qualquer outro objeto que não seja considerado artístico. Associa esta última opção às invenções diversas, e não somente no âmbito da arte. Algo que não é similar à realidade pode ser algo novo mas não por isso, arte. Tais finalidades entram em contradição direta com a arte, pois um abridor de latas pode ser uma invenção de utilidade doméstica ou uma arte, conforme o autor cita como exemplo. Logo, o critério de inovação também é descartado como significador da arte.

A sua saída para tal dialética introduzida neste primeiro capítulo será deixar o problema em cima da arte enquanto convenção declarada. Uma hipótese para aproximar a arte do argumento da arte institucionalista. Mesmo criticando-a por não se aprofundar ou nem levar em conta essas questões que abrangeriam ou não determinados feitos para caracterizá-los enquanto venham ou não a ser uma obra de arte.

BIBLIOGRAFIA:

DANTO, Arthur C.A transfiguração do lugar-comum. Trad. de Vera Pereira. São Paulo: Cosacnaify, 1989.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Entre, saia, naufrague, voe, comente, minta, mentecapte, poetize, sarause, recadoe, anunssintetize. Enfim, qualqueira!