segunda-feira, 26 de julho de 2010

Kant e sua idéia cosmopolita

São Paulo, 13 de novembro de 2008.
Unidade Curricular – Leitura e interpretação de textos clássicos.
Professor – Ivo da Silva Júnior
Dissertação sobre o livro: Idéia de uma História Universal de um Ponto de Vista Cosmopolita,
de Immanuel Kant.
Universidade Federal de Guarulhos
Cristilene Carneiro da Silva (r.a: 50043)
Curso de Filosofia - Vespertino


O cidadão do mundo é aquele cuja vontade é universal

“... assim como as árvores num bosque, procurando roubar umas às outras o ar e o sol, impelem-se a buscá-los acima de si, e desse modo obtêm um crescimento belo e aprumado, as que, ao contrário, isoladas e em liberdade, lançam os galhos a seu bel-prazer, crescem mutiladas, sinuosas e encurvadas. (KANT, I. Idéia de uma História Universal de um Ponto de Vista Cosmopolita. p. 11 ) ”

“Em geral o particular é muito insignificante em relação ao universal, os indivíduos são sacrificados e abandonados. A idéia paga o tributo da existência e da transitoriedade, não de se mesmo, mas das paixões dos indivíduos” ¹. Hegel neste trecho de seus escritos encontra questões em algumas resoluções Kantianas a respeito do particular como um problema ambíguo ou até contraditório porque o universal se dá por meio do particular mas acaba por extingui-lo. Porém o antagonismo e universalismo em Kant podem ser vistos como lógicas morais, e não como qualquer tipo de problema a ser resolvido. A solução não está em procurar problemas no pensamento Kantiano, mas na maneira de compreendê-lo somente por meio de um ponto de vista particular e julgar a ambigüidade humana como problema, pois a partir daí é que se extingue uma de suas partes (a particular ou a universal) e não quando se coloca ambas como necessárias à sobrevivência da espécie humana como fez Kant.

A impossibilidade de um conhecimento independente dos sentidos humanos, convicto de como a natureza é em si mesma, já particulariza tal conhecimento unicamente para as vistas do homem, não havendo outra possibilidade de vislumbrar um outro conhecimento que não o dele. Por isso não há como não considerar a experiência particular apenas como testemunha da própria razão. Nem a idealização ou o entendimento, nem a experiência fazem, sozinhos, a concordância de um conceito. Logo, a transcendência está exatamente na união entre os dois, ou mais claramente, na ambigüidade. Qualquer visão referente à tal raciocínio que também não se utilize de tal dialética, será uma forma invalida por não abranger uma crítica (conceito do pioneiramente Kantiano) sobre o assunto, mas somente uma metafísica.

Mas a transcendência atua para além dos indivíduos: é o espírito esclarecedor que não julga um só ponto de vista nem uma maioria numa multidão, mas simplesmente coordena por meio de possibilidades uma totalidade máxima de concórdia entre os indivíduos, sociabilizando-os. Onde espírito signifique o que está entre a matéria e a idéia, a força de transporte entre os dois: seja entre um fato e um relato (ou uma história), entre a empiria e o a priori, entre a subjetividade e o esclarecimento ou entre o particular e o universal.

Tal raciocínio atuará universalmente não só no direito, na moral e na política como também e principalmente na maneira de considerar o universal por meio do particular e vice-versa. Usufruindo-se dos dois sem descartar quaisquer possibilidades e por isso reger uma vontade natural e universal quando estabelecido o seu curso regular de acontecimentos. Curso o qual também baseado numa crítica das possibilidades práticas, transcende o indivíduo à civilização e dela ao Estado e por diante, cosmopolitamente. Em outras palavras, quando se achar leis também transcendentes na história humana.

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¹ A respeito dessa crítica feita por Hegel, encontra-se a seguinte citação: “Numa perspectiva fisiológica e pragmática de como o conhecimento humano pode se dar por meio de uma lei, Kant sugere que o homem é um objeto da e na natureza, livre e cidadão do mundo... Na Ciência da Lógica (1812), Hegel destaca as ambigüidades da explicação Kantiana do conceito, mostrando que a sua tentativa de reconciliar lógica e epistemologia é inspirada por uma ontologia, e que sua relação equívoca entre conceito e intuição pode ser analisada em termos das relações entre universalidade, particularidade e individualidade. (Caygill, Haward. Dicionário Kant. Trad. de Álvaro Cabral. p.64 )”

“... através de um progressivo iluminar-se (Aufklãrung), a fundação de um modo de pensar que pode transformar, com o tempo, as toscas disposições naturais para o discernimento moral em princípios práticos determinados e assim finalmente transformar um acordo extorquido patologicamente para uma sociedade em um todo moral.” (KANT, I. Idéia de uma História Universal de um Ponto de Vista Cosmopolita. p.9)

Desta última afirmação podemos concluir o quanto “O cidadão do mundo é aquele cuja vontade é universal”, e não excluirmos daí a necessidade moral (ou prática) de seguirmos num percurso moldado por determinações que podemos escolher entre traçarmos ou não, porém não por isso abandonarmos tal lei abrangente de todas as possibilidades e, também nisso, universal.

BIBLIOGRAFIA:

_ KANT, I. Idéia de uma História Universal de um Ponto de Vista Cosmopolita. Org. Ricardo Terra. Trad. de Rodrigo Naves. São Paulo: Martins fontes, 2004.

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