sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Recanto dos pássaros

Tinha uma radiola ali
Olhando a linda gaiola
cantadora de bem-te-vis
coloridores dessa hora

Era a leveza da lama
limpando a mestiçez dura
levada a virar fama
de arte e cerâmica pura

Até lustres a essa altura
baixo calão popular
altos calos no povo
média ilustrada a fotografar

A criar de novo o já novo
novidade não lida com hábitos
não labuta nem cansa
abafa a aldeia, tem mal hálito

E loucos, pulam das telhas
atrás da fogueira de palha
caindo em fógos das besteiras
comemomrativas que os valham

foto de Herbert Lago Castelo Branco, em Chapadinha no bairro emergente “Recanto dos Pássaros” (acesse:http://herbertlago.blogspot.com/2010/04/chapadinha-princesa-do-baixo-parnaiba.html)

O Trator

Trtrtrtrtrtrtrtrrrrrrrrr
Mar de trabalhos
barulho trtrtrtriturado?

Neo concretismo


Plástica gritada
letra artista
desenhada
10 zen, desdentada


Aaaaaaaaaaaaaaaaa
dá aaaaaaaaaaaaaa
Ada ada adada
anti dada


Antídata
contra tempos
ritmo com gênero
no agudo acento

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Vista

Quem pode prever o que vem antes?
Antes do agora e de nós dois?
Quem consegue ver o que é durante?
Entre o incansável e o depois?

Alguém me dê a mão
porque palavras soltam vozes
mas não prende uma ilusão
como é querer um coração

Vem lá nem que seja de Deus
traz essa paz de amor
e me lança pros olhos teus
e alcança o que já é teu

Aparece por favor
até o socorro se encantou
por você, lago de amor
por você, emoção que chegou

Hora esta que não me passa
mas nos basta e a todos
com esse jeito todo todo
de ajeitar todos os todos

Pronomes pra ti são poucos
tempo, grau, quantia e outros
naõ sei mais o que fazer
pois só sei um pré nome de você

Verde perto

Era um bichinho flor cor de uva
nenhuma formiga bastava
suspirar verde de saudade
que não crescia e nem murchava

Bichinho espinhoso só a ver
esperar a espera finura da selva
beijando a folha pra se envolver
durante terras e mil trevas

Ah, como era mesmo florescer?
De tanta flor, brejo e madeira
orvalho gostoso, suor a escorrer
rio de ninhos, goso e cantoria

Feito chuva que tudo sascia
o ar que vinha de longe
era sol, mar, vulcão de alegrias
pedra rude e forte, amor

A corrida

Estou velha, creio
minto cada vez mais
porque esqueço
o que faço dos meus dias
atráz

A natureza manda
eu só obedeço
quem dorme em meu leito
sonho pedindo um cais
e já dou o endereço

Dois segundos de idas
e eu apodreço
não lembro se intervenho
mas me acelero aos vitais
e mais eu me esqueço

Em barcação

O amor aqui anda
e tem cabelos ondulados
ele me comanda
e faz sentido, e é bem tratado!

É a música que se balança
envolve a dor e a aplaude
sua força é gesto de carinho
gesto de olhar e de amizade

Como é lindo esse ninho
criação de braços grudados
nasceu Dali um mundo luz
de romances embarcados

Barca de Paketá
traga-me a quietude
nem o Luiz Melodia,
nem os Novos Baianos

pois é outro só que me ilude
pois é só outro que me ilude

Ou que do nada eu me mude
e o tempo me distraia
a brincar de pular na fé
fé na vida, ré na vaia

Mas seja o que ele quiser
entrego àqueles olhos
a boca e tudo o que vier
mas que venha até a louca

Mar de meditações roucas
nada me ditava calma
tudo gritava pra alma
os céus de mares entre nós

Vai de vez, embarca
viajante lúdico, levado
deixe-se levar por algo
não me deixe nesse fado

Porque teve de ser este embargo
piegas fui tão e tanto em ir
que você me veio, todo largo
mas longe de querer me partir

Não Riam















Abraço de mármore
filho de celebridade
cérebro das árvores
auréola de irmandade

Síndrome turística
de viajar pelo espírito
de amar pela mística
fé doada ao lúdico

Fé na nossa fé depositada
ilusão cristã que é paga
com os braços do nada
vendido ao Brasil feito praga

E a compra é ainda mais
mais cintilante e alienada
deslumbra os feios curvos
com a corcovisão almada

Rio revire o janeiro, então
amor que fique pra fevereiro
e o povo cai do avião
mas não sai dos estaleiros

Chamados de televisão
lindezas sempre em primeiro
chuva e novenas de acusação
jorra a mídia até os paradeiros

Não quero, não à benção disso
abençoado é só o meu vício
de desacreditar primeiro
depois aceitar seus Vinicius

Sem cristianismo no que sinto
mas foda-se o corcovado
quero o morro e seu labirinto
quero abraço de gente

Ir ao socorro, não ao mito
ao faminto de voz
e estufado de ditos
mas munido e feroz

Quero você como Cristo
salvador dessa pátria
profeta só do inevitável
redentor do real durável

Recrie o amor e o astral
infernal é a carga de novelas
e celestino navio comercial
que afunda o Rio na favela

E enfurna de vez a miséria
onde há espaço pra enfiar
ali estão suas quimeras
e a força para as negar

O detido

Desde que deste
desdei o des e te dei
dentre dentes, o tédio
destemido de te ter

De mora

Antes não ir
onde se tem vontade
a ir onde
não se tem

Antes não apostar
do que adiar o dito
o atraso mantém prazos
a espera não pára

Longos são apenas anos
a contagem é curta
é morna e tem planos
é veneno aos birutas

Ai, mas se o tempo labuta
na luta de não se contar
o desespero me assusta
e anseia conseguir esperar

Eternidade momentânea

Vem nadar na minha praia?
ser a brisa do meu mar?
Põe seu sol na minha saia
colore esse amarelar

A minha blusa é teu lençol
minhas ondas travesseiro
olhares nus soltos no ar
pescados na areia primeiro

O mar chamou o sol pra si
e o sol mergulhou por inteiro

Toda natureza deitava
naquele quarto trancado
tesouro de homem guardava
arco-íris ali hospedado

Momento

Eu não
acredito
neste
eu não acredito
neste momento
eu não acredito neste momento
neste momento