quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Tapete Vermelho (ao/s reitor/es)

Bem vindo ao campus seguro
não o ilustre desastre
de desmoronar futuros
Tapete à quem faz parte

Construção é bem vinda no prédio
portas abertas à moradia
à qualidade no ensino, não ao tédio
à quem se forma todo dia

Não são bem vindas regalias
abelhas em flores corrompidas
mel no dinheiro sulgado
nem repressão às escondidas

Salve salve a chegada da comida!
É devorada a insatisfação
assim que engolirem a reinvidicação
sem degustarem nosso tempo

Não mais jogados ao vento
se não entupiremos a faculdade
bem vindo é o nosso sustento
e gente mobilizada de vontade

Vermelho para o fim do fracasso
Vermelho para não derramar sangue
Vermelho para educar o abraço
Vermelho para o fim do antes

Mutantitude

O avesso da mudança
não é a estabilidade
mas a espera
de esperar oportunidade

Oposto é quem repete
reproduz terceirizado
acusando o já acusado
ilegitima o discriminado

É o estudo do estudo
a crítica da crítica
a negação da negação
a paralização do parado

A repetição indiferente
atira pedras descontente
discursa que respeita
mas na hora de sentir
é o primeiro ser ausente

E o primeiro a se ferir
pois não há quem o contente
assim não vai transgredir
enquanto prostitui a mente

Posição é ação consciente
de como homem refletir
de como não aceitar tudo
nem se doer feito doente

Via busca de condução

Não espera, escreve
que o ônibus anda
e a chance você perde
de pará-lo com o dedo
as mãos dão sinal
pra entrar na viagem
e partir do medo

Gemido

E o mundo precisava de fadas
estava com muita dor em mim mesmo
e com pouco de mim na dor
eis a dor do mim em segredo

Ego de brinquedo
faz eu me doer
de tanto mim dolorido
dorme em mim de arder

Criações que me dão medo
fadadas à miséria de mimos
emocionantes extermínios
das fantasias incríveis

Insubstituíveis emanações
das múltiplas macabras dores
doa a mim doer, enfim!
Sem demais amostra de amores

Moa-me então, malvada ação
manda no mim que me mede
mendigando-me rumores
mesmo que doloridos
a esse meu eu que não sede

Uma mulher













Mulher me nina
mulher que liga
mulher tão fina
mulher amiga

Mulher mulher
sabe onde pisa
sabe o que quer
e quem enfeitiça

Mulher, me avisa
se alguém te mima
que eu dou mais brisa
que a Monalisa

Júpiter

Extração de risos soltos
saltados do nada na bochecha
alimento afro envolto
de um pouco mais de contento

Astral enluarado e louco
alienado e destemido
a inocência acaba
quando se inicia no outro

Quando se contempla
ao completar uma volta
em si mesma
feito a Terra, feito a bosta

Na qual se sustenta
envolvendo o Sol, estrela
365 dias de profundezas
para abraçar o coletivo
e revertê-la

Êxodo

Fiapo de manga preso no dente
Farpa de madeira na mão
Galho seco em chá quente
Grito de gente com tradução
Moinhos de boatos
sem explicação

Relógios correndo em quatro rodas

Caminhões de medos
com pitadas suspirantes
tristezas virando segredos
músicas destoantes
detalhes sensíveis
em remessas de brinquedo

Relógios morrendo atrás das portas

Gotas contadas escorrendo
esgoto entupido de conta-gotas
Gato nos fios que apreendo
ligado por inconsciências remotas
curto circuito de paciências idotas

Relógios abertos feito boca

Tempo de comunicação oca
louca e com uma única ação:
a rouquidão convulsiva
da inércia na paralização
que pode ser repetitiva
mas não circula como relógio

Participação

É só uma parte ser todo
Estar de todo
é maior que qualquer ser
que todo ser já faz parte
mas nem toda parte
está toda num só ser

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

À música

A melodia escuta oca
para aprender a falar
o que ela cala
por só saber escutar

E no máximo canta
preenchendo um canto a mais
com volume absoluto, luta
sem violência, dança com a paz

Mas melodia, me escuta:
grite pela palavra cantada
sejas delicadamente bruta
assuste nossa língua dura

Expanda-se pelo ouvido
e invada de vez este espaço
e o vazio de vida é dissolvido
nessa música cheia de abraço

Que o barulho é feito de tempo
em pedaços esparsos ao vento
e jogado voando em teus braços
e enlaçado por ti em silêncio

Mel dos dias, tua música
faz a vida sobreviver
toca o instrumento amor
escuta menos e vem pra dizer

Caminho de Farfalla

Único lugar único
é o estar nele
voando para outro
pelo balão do onírico

Voltar até o pouso
no sobre real da natureza
tempo-espiritual
que transpira belezas

E absorve o ser animal
com delicadeza humorada
de quem vai assim pelo nada
passado o intuitivo homem

Estipolaricação

Nada deve ser perfeito
desfeito os desfeitos
e os direitos de direito
tudo tem que ter um jeito

Uma visão, uma luz,
um padrão, uma cruz
é ser único no um
é um único no ser

Cada coisa em seu lugar
mas a todo tempo o tempo todo
faz das coisas o sentido
de sentir o fazer das coisas

Utilidade é já estar parido
e desprovido de lógicas
pois a vida é sem sentido
é só tido os códigos

E eles permanecem escondidos
a fim de dar razão à razão
nossa amada inimiga
contradita nessa infinita paixão

Moral dos que desmoronam
à procura de uma morada
que abriguem esse mundo
mundo mundano do nada

Fragilarquia

Ignorância é tê-la
e dar-lhe importância
é querer refazê-la
por meio da arrogância

Arrogância é negar
e afirmar como não
para se afirmar
dar desculpas à razão

Razão não é nada
é miséria explorada
coisa apática e bufona
que o tempo faz de piada

Breu

A lua minguou
seu olhar dormiu, fechou
breu do sumiço vão
pela obscura escuridão

Que me leva à claridades
aos anjos protetores
das saudades
entregas aos amores de poetas

Deixo meus olhos quietarem
vazio negro a preenchê-los
em busca dos segredos
obscuros de estrelas sombrias

Olho do céu

A lua teve de nascer laranja
A lua teve de nascer
laranja a lua
a lua lá esteve

Era um piscar de você
Era um minguar
de você era um

Era um eu
um meio olhar de tigre
um meio de me olhar
era a lua a me ver
céu você negro a piscar

Preposição

Venha logo aqui pra dentro agora
venha, venha correndo, depois encoste
encoste, cole, aperte, envolva, suave
leve, cheire, beije, beije, beije
e entre aqui pra fora quando sair

Um quê

O QUE EU QUERO COM VOCÊ
É COM VOCÊ
VOCÊ

Astro infernal

Enluarado de luzes florecidas
ele soou melodicamente batucado
em minha vida, alegre
implorando-me ilusões já entregues

Então ginguei-lhe lamentos
lacrimejando liberdades
enlouquecidas
d'outro relacionamento

E o atento burlou meus dias

Noites aromáticas com lindezas
era tanta beleza no prazer
difícil lembrar de me esquecer
que ali era o inferno

A me envolver de lamas
gostosas e escorregadias
lambuzadas de fogo
de água e terra em jogo

Do mundo todo
no triz da lenha
a queimar logo
fósforos de medos calmos
legando o consumo de algo

Enfim cai!
E o vento nos secou em pedra
nada firme, barro solto
feito assinatura de contratos
sem a lida dos outros

Feito datar estrelas em contos
torcer um pé e não se aguentar
no outro
de tanta dúvida
arrastar-se pelo lodo

Não encontrar submundos possíveis
a não ser cair nesse barro natural
esfarelando nosso laço conjugal
depois de sair, enfim
do meu maior inferno astral

Experimento frágil

Deixa eu cair de novo
me deixa por aqui
que eu vou bem
eu vou pro novo

De novo porém
me deixa no não
que eu me movo
e saio pela culatra

Mas não se deixa mais nada!
Além de alguéns

infantis histórias
contadas
sem querer
e pra ninguém

Aceitação

Não fique com Deus
fique com a Deusa
deusa dos minúsculos
ateus em crepúsculos

O olhar de mulher
não é como mulher
mulher que olha
desejos de glória

O sim é mantido
mas sim é proibido
porque é um escudo
que há de ser partido

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Vontade lógica

Venenos empretecidos.
Óculos escuros nas árvores.
Moitas de cigarros.
Acidentes mofados.
Brincos de pena de galinhas.
Sexos pendurados.
Sexo pendurado na cortina da venda.
Roupas despidas pela música.
Músicas despidas pela roupa.
Amores engarrafados no álcool.
Engarrafamento de pessoas no trânsito.
Transes de drogas atônitas, atônito.
Preocupações com a privacidade.
Privacidade invadida por si mesmo.
Aparente falta de parecer às aparências.
Wolksvagem.
Bienal de academias em liquidação.
Mangues, santo daimes, trovão de alquimistas.
Graças à Raul Seixas.
Queixas de putas por tantas deitas.
Política de futebol politizado pelo futebol.
Gramas de tráfico em baixo do lençol.
Casamentos impressos pela imprensa.
Candidatura punheteira à palhaçadas.
Amostra grátis em demo de democracias.
Oferecida por tiriricas da cia.
Feira de livros.
Feira de livros, carros, imóveis e crianças.
Cachorrinhos poodles enlatados no colo.
Partidos repartidos e distribuídos nos mercados.
Populismo fabricado com garantia e validade por operários.
Nostalgia publicitária desde a menor idade.
Vontades prontas, vendidas à la carte.
Delivery de estagnações e fugas virtual ou à grande distância.
Ou onde quiser.
Em contraste com a história
está a 'paz' do agora

O novo que desacredita
e cria juras desditas

Malditas traições invertidas
soam feito leões

Em jaulas sob medidas
com fianças remendadas

Revolvo

Umas mulheres não parem
elas reparam
O homem não guerrilha
dis puta
e meu cérebro está grávido
a gerar não sei o quê

Inglória

O troféu da luta
não é melzinho de puta
nem disputa de pares
dos amantes vulgares

Vem da força das pazes
para além da competição
é a liberdade da ação
viva a revolu-mudança

Libertação não é vitória
já foi glória agora é não
romper tiranias toscas
em adesão à memória

Açougue de carnaval

Tem de tudo nessa joça
vem que tem até rainha
Tem lambada, tem maloca
vem cair na fogueirinha

Pra quem vem na nossa
ganha brinde de primeira
faça o que o povo gosta
e saia bem na mamadeira

Olha o pedaço de mulher
leva na hora, carne fresca
temperada do que quiser
meia dúzia se faz de besta

Faz que vem plantar fruta
e cuidar do jardim com amor
é vegetário em açougue de puta
mas falta terra e sobra valor

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Antropoesia

O homem correu
o homem passou
deixou cair palavras
que o pensamento pegou

O homem encantou
ao rimar filosofia
com povo na música
sabedoria popular

O homem aprendeu rimar
com o povo que se repete
na roda da andança do novo
e o batuque que repete a teimar

O que que repete ao passar
sobre a história dessa dança
o rancor venceu a guerra
na corrida social pela terra

O homem se empoetizou
na arte de criar glórias
eternizou seu fôlego
no vencer das próprias vitórias

Cena

Vai ser gauche na vida
que eu vou é ser gaucho!
Cheio de gagues cheias
mas sem luxo

Cheio de cucas
comidas e pó
bocas malucas
a descrever bocas

Brother de quarto
de terra e de bar
até em Minas
com a Júlia a contar:

"Mande aí a óca",
mandiocas, aí Pim!
E me cá cheira
Titchong na beira

Mexericas mexendo
na cabeça e nas brisas
gosto de fome em segredo
e de massagem nos dedos

TORRADOS

RATOS DA TORRE
TÃO RATOS
SÓS
QUE DE TÃO TORRADOS
SÃO PRINCESAS
NO SÓTÃO
RATOS TÃO RATOS

O homem que gozava palavras

Nas palavras, ele gozava nas palavras
por trás depois e pela frente antes com as palavras
palavras gozadas como eu te amo
ele gostava de palavrear gozos

Aquilo pra ele era um jogo
"eu gozo e você diz que me ama
você diz que me ama e eu gozo"
e só a cama sob os loucos

Era um dizer de gemidos roucos
afoitos no prazer das tremedeiras
e dos líquidos entusiasta de besteiras
asneiras orgásticas pra poucos

Como o amor, flor dos nus
azuis e cintilantes mares
incendiando os dois olhares
entre o amoroso e o meu gozo
ou
Entre o goso e o meu amorozo
num elo de instantes trocados
lambuzados de penetrantes beijos
ensopados de tantos desejos

Quase me pedindo em casamento depois
glamurosa de muita estima
levitei lambendo o amor
elevada de realização legítima

Mas não se iluda, por favor
que sexo lindo não ganha vítimas
mas sim leva os corações à dor
de uma relação lavada e límpida

Poesia do não

Também não quero poesias
não quero armas nem vadias
também não quero rimas
alegrias ou ironias
vazias

Também não quero o tédio da melodia
as repetições dos dias
não quero amor nem mais valias
não quero a náusea, o enjôo, a anemia

E nego tudo, só por poesia
por querer te esquecer
com as fontes que crio
também não quero

Também não quero o também
nem o mais, porém
nem a gramática minada
ou a filosofia cansada

Não quero a música
os jogos, as palavras e os beijos
o sexo, a vida ou os Cleitons
não quero o não nem o quero

O vão, o tédio, o tão
e mais todos os sufixos
prefixos, asteriscos
o que contenha grito

Não o não
Nem o nem
no você
você

Tapa
















as mulheres não se amam
elas se chamas
faíscam olhares pra fora
chamam ser espelhos

Bruxas fêmeas
nojentas sem medo
preferem a esmola
do belo brinquedo

Ao instante e agora
verdadeira hora
dos desejos, vacilos,
das auroras

As mulheres matam
pois vão muito cedo
desde que menstruam
misturam a inveja

Veja mais interior, pois
se ficarem nos infectos
não se afirma, mulher
somos mais que pó de arroz

Sejamos o que se quiser
vaidade é ciúmes só pra dois
não pra já louvada mulher
que gava o seu sexo
mas não o partilha depois

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Homenagem à personagem da irmã mais nova de "Bicho Homem" de Lia Vasconcellos

E a alma é diluída no rio
é a mancha do tempero
seco e ardido desejo
de lambuzar o desespero

De violentar o arrepio
que sobrevive do medo
de romper o último fio
e se minar em segredo

Ode do brinquedo
que ultrapassou o amor
pra se esconder no momento
de fluir pelo sangrento
respeitar as horas
de acordo como o sol brilha
de acordo como vem
dê a cor
do tempo

conforme ele tem
forme momentos
e decore ventos

mude a cor do tempo
e ele cora

Eternidade momentânea

Vem nadar na minha praia
ser a brisa do meu mar
põe seu sol na minha saia
colore esse amarelar

A minha blusa é teu lençol
minhas ondas travesseiro
olhares nus soltos no ar
pescados na areia primeiro

O mar chamou o sol pra si
e o sol mergulhou por inteiro

Toda natureza deitava
naquele quarto trancado
tesouro de homem guardava
o arco-íris ali hospedado