segunda-feira, 26 de julho de 2010

Narrativa sobre Yerma, de Garcia Lorca

Primeiro, é preciso contar das montanhas e dos gados rodeando aquele campo de homens que cuidavam da colheita nas terras. Alimentados de tudo o que traziam suas mulheres: comida e alegria. Elas deviam sustentá-los, incansavelmente. E a casada Yerma também, não cansava.

Yerma fazia de tudo para satisfazer seu marido, Juan. Procurava consumar o seu casamento o mais integralmente possível, conforme aprendeu na sua educação com seus pais. Queria passar esse exemplo também para seus filhos...

Mas Juan não respondia dessa forma. Ele esperava o fruto da terra. Ela, esperava o fruto do casamento. Yerma precisava de um filho, era a meta de sua felicidade. E até enxergava tudo contra si mesma, pressupondo sua falta. Enquanto via a maioria das mulheres tendo seus bebês, ela dedicava o resto de tempo que tinha, também para aguardar o seu.

Começava a pulsar nela um certo apavoramento, mesmo silencioso, ao sentir a força da vida que Vitor, o pastor amigo da família, tanto possuía em relação àquela morbidez de seu marido. Afobada, sai atrás de alguém mais velho que a fizesse entender esses motivos, dos quais ela mesma se indignava. Mas as mulheres mais velhas não davam-lhe respostas, davam ainda mais perguntas, mais perturbações. E essas inquietações continuaram refletindo sua casa e seu marido.

Seu comportamento passou a transparecer tanto a ponto das pessoas perceberem, principalmente aquelas que faziam questão de perceber, e que faziam questão de observar, e que faziam questão de reparar ao máximo possível da vida dos outros para noticiar ao máximo possível de pessoas nas ocasiões não tão máximas propícias assim, à tais comentários... Um lugar como a beira do rio, por exemplo! Onde os cochichos dessas lavadeiras se confundem com a água escorrendo. Aproveitavam-se disso para jogarem suas palavras ao barulho.

Mas nem todas que freqüentam esse riacho gostam muito de falar sobre a casada. Há quem goste de cuidar da vida de Yerma de uma outra maneira, quem pareça até ter certa surdez diante todo aquele barulho, especificamente as duas cunhadas. Preocupam-se em cumprir suas próprias leis de castidade pecando ainda mais. Degustam a própria honra e devoram seus gritos abafados por dentro onde apenas seus corpos os ouvem e as bocas, emudecem. São o melhor exemplo do que seria uma plena mulher, para Juan.

E a não chegada do filho se habita no ser de Yerma. Quanto mais ela convive com a alegria dos filhos de amigas tão próximo à ela, mais distancia-se dessa alegria. Quanto mais ela quer, menos tem o que fazer, como própria desgraça. Seu filho vai crescendo no coração, e não no útero.

Ela tem alucinações pelo filho por meio da luz que vê em Vitor. Mas Juan a escurece por tratá-la como uma lua em ação: distante, em vigia e minguando sempre após crescer, condenada pelo passar de seu próprio tempo. Aumenta e diminui-se enquanto bomba aquela explosão jamais sucedida. Asssim como uma bomba, de contagem infinitamente ‘progressiva’.

Então, desteme sua desgraça. Instala-se como sendo a sua própria desgraça. Por querer apenas, e mais nada. Vai em busca de sua cura. A Romaria, lugar onde reza e faz-se de tudo para ter filhos, será seu antídoto e sua última fé. Deposita-se nas rezas de Dolores, a milagreira. E no meio desse lugar, onde o prazer não é dor, nem a orgia, difamação, o importante é acreditar na vinda do filho; seja pelo sexo, seja pelas orações. Mas Yerma recusa envolver-se com outrem além de Juan. Mesmo ele sendo muitas vezes duvidoso da sua honestidade. Jamais trairia seu ofício de mulher: casada e, mãe...

E nessa perseguição doentia por cada passo de sua mulher, escondido por trás da Romaria, Juan é convencido pela fidelidade de Yerma ao ouvir seu repudio a outro homem, filho que a velha Pagã lhe oferece. Ele então descobre-se, desvendando suas vontades e desejos enrustidos à ela. A ponto de deixar revelada a sua esterilidade e, com efeito, ela certifica-se de tal fato e rejeita Juan. Engole o sabor seco. Mas acaba por vomitar esse veneno. E isto sai de dentro dela em forma de ódio refletido no impacto de suas mãos avançadas bruscamente ao pescoço do marido, sufocando-o violentamente.

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