segunda-feira, 26 de julho de 2010

Conta outra

CONTA OUTRA


Prólogo

Onde o que parece não é,
onde leiloam-se máquinas de exibições à mídia.
Onde a amizade tem preço porque é barata de mais.
Onde ninguém conta o que é, mas o que precisa ser.
Onde fala-se muito e esconde-se muito.
Porque o falado não é o fato. Não é o vivido.
É simplesmente o mostrado. O querido.
O bem acabado. O distinto. Ilustre ilustrado...
Aparências: o pousado. Que aterrissou em nós.
O (somente) falado. O exterminador de atitudes. Hipnotizador das reações.
O telefone?: caro, pq o amigo custa dinheiro.
O ônibus?: cronometrado, pq a pessoa custa o tempo da integração.
O pc?: contaminado, e gripe é que nunca foi doença!
As oportunidades são de todas as pessoas
mas são virtualmente ilusórias.
Presenteamos o futuro com os nossos ganhos.
Mas os presentes não existem ou jamais o receberemos.


Notas:

Mas, de algum jeito conta... (a peça será escrita com letra de carta, de preferência expostas nas cenas.)



Conta:

Sobre as relações humanas e as circunstâncias em mantê-las:
1º: o $ como influencia da distância. Logo, influencia da proximidade do amor.
2º: Sobre a revolução virtual: a falta de atitude, alta dependência tecnológica.

O universo de ligação entre esses escritos terá de ser no âmbito capitalista. Mostrar a maneira como nos está entranhado hoje. Escrever de forma experimental e/ou absurda.



CONTA OUTRA

1º Ato:

Desta peça pode-se fazer tanto na íntegra e na presente ordem de cenas, com as rubricas também como parte da fala do texto, ou fragmentado pelas cenas em outra ordem, sem o uso das rubricas ditas em cena.

Todos os atores têm função de narradores, exceto a árvore. É recomendado um grande número de atores-narradores, com a idéia de não haver repetição destes.

Uma cena: (A cortina abre e a primeira cena é muda e parada. Composta apenas pela árvore vestida no centro do palco.)

Outra cena: (nesta cena, o primeiro narrador é uma gravação, ele não aparece em cena.)

Voz em off _ Eis uma árvore, com seu tronco num glamouroso formato. Está cheia de luzes sobre ela e bem no centro das atenções. É uma iluminação que a define bem por deixá-la com esta cor toda artificial. Ela usa colares e pulseiras da última moda em seus galhos. Bem vestida de brincos enormes pendurados nas suas folhas e uma roupa que lhe caia bem, um vestido, por exemplo. Ah!E, se precisar, sapatos (altos, é claro...). E mesmo prestes a acabar tal cena, ela continua fazendo sua pose ali, toda paralisada como uma boneca, sem dizer nada. O foco da cena é apenas dela. Ela gosta muito de aparecer.

Outra cena: (aparece um ator, que ri ao ver a árvore)

Ator_ (caçoando) Ei, já é Natal? (sai da cena)

Outra cena: (voz ainda em off)

Narrador_ Na próxima cena, a árvore inocentemente me pergunta se já é Natal. Por causa daquele Papai Noel que lhe fez tal pergunta. Eu respondo-lhe: “_ Senhorita, mas eu não posso saber quando é e nem quando será o Natal, me desculpe...(e como quem a ouvisse) _Ah, festa?Não, não é necessário o Natal pra haver festas, senhorita!A senhorita deseja uma festa?Então eu toco uma música, e pronto! A senhorita faz a sua festa...(narrador põe marchinha de carnaval pra tocar) Agora já tem-se o seu Natal.”

(Continuam em cena a árvore e a música.)

Outra cena: (Minutos depois entra uma atriz sambando disparada.)

(O narrador agora entra aparecendo no palco)

Narrador (à árvore)_ É melhor a senhorita árvore parar de dançar ou se cansará muito, e até pode cair seus cabelos e ficar careca!

Atriz_ Eu concordo!Você quer aparecer demais dançando assim, desse jeito rebolado... Sai do meio, por favor?(a atriz empurra a árvore até o canto do palco)E pare de me empurrar!Olha que eu chamo a polícia... (a atriz pega a bolsa que está pendurada na árvore e sofre um susto como se tivesse sendo roubada)Mas o que é isso?Devolve agora a minha bolsa, agora!( a atriz tira um celular da bolsa q está em sua mão)Meu celular!Ela pegou o meu celular!Quer fazer o favor de dar o meu celular?(a própria atriz é quem repõe o celular na bolsa e devolve-a pra árvore, de quem a atriz mesma havia pego) Hum, bom mesmo...

Narrador_ Mas a atriz não chama a polícia...

Atriz_ Pronto, já chamei a polícia pra vim aqui te prender, sua espertinha!(mas ela realmente não chama)

Narrador_ E assim, a polícia não chega...

Atriz_ Ah!Mas que eficiência, a polícia já chegou, estão vendo!(narrando) E assim a polícia leva a árvore embora... (mas é a atriz quem sai, enquanto fala esta última frase)

Outra cena: (Entra um ator trajado especialmente de padre, ou de outro caráter religioso)

Ator trajado_ (para o narrador) O senhor ouviu as suas preces!Ouvimos o seu clamor pela polícia e trouxemos a sua salvação!Viemos buscar-te... Rumo aos céus!Rumo à polícia!Rumo aos céus’s centers !

Outro narrador ou rubrica_ (Mas quem o padre leva p/ fora de cena é o narrador e a árvore permanece.)

Narrador ou rubrica: (Esta última rubrica já está sendo narrada, em off, por outro narrador.)

Outra cena:

Narrador: A árvore está sozinha.

(Entra mais um ator/atriz)

Ator/atriz_ (entra rápido e pára a mão na árvore dirigindo-se também à ela) _ Calma, calma!P/ que a pressa?Não precisa chegar, vc já abandonou muita gente com toda essa rapidez. Aposto que no próximo lugar irá, não haverá velhos amigos...Possivelmente, esta pobre criatura não tenha amigos, por não ligar p/ eles, não é?

(pega o celular da bolsa da árvore e dá p/ própria árvore)Toma, pode ligar do meu. (como se ouvisse uma resposta) Não eu sei, eu sei... Mas mesmo assim, nem a conta do telefone de paga o preço dos velhos e bons amigos! Pra eles sim, volte o mais rápido possível! Antes mesmo de acabar as duas horas toleráveis para a integração gratuita nos transportes coletivos... Economize o seu...tempo!( ator/atriz vai saindo e falando) Pode ir, eu ficarei por aqui mesmo abandonado/a, mas sem problemas, não se preocupe!Eu não tenho pressa, sou um vírus, parasita, dependente de um corpo celular pra se desenvolver! (sai e volta) Mesmo assim, espera vai... Não me leve para junto de seus tranqueiros, a contaminação virumana é tão mais perigosa quanto um computador ordenado como nós, não leve isso adiante, (contraditório à fala, vai saindo do palco) fiquemos por aqui...

(ator/atriz sai. Somente árvore em cena)

Narrador_ Senhorita, o Natal!Venha comigo, vamos buscá-lo!

Pano

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