domingo, 4 de setembro de 2011

avaliação sobre TESES CONTRA FEUERBACH

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
CAMPUS GUARULHOS

AVALIAÇÃO FINAL DE SEMINÁRIO DE ENSINOÀ FILOSOFIA
PROFESSOR RODNEI NASCIMENTO
ALUNA CRISTILENE CARNEIRO DA SILVA
FILOSOFIA, 7º TERMO, NOTURNO

TESES CONTRA FEUERBACH
(KARL MARX)

SÃO PAULO
06/07/2011

1) Explique por que, nas "Teses contra Feuerbach", Marx considera que todo o materialismo fracassou em sua empreitada teórica. Qual a solução oferecida por ele em contrapartida?

“Os frutos nascidos da planta espúria em suas cabeças acabaram por suplantá-los. E eles, os criadores, curvaram-se diante de suas criaturas.”

Todo materialismo teórico não transformou – para o estudioso de Demócrito e Epicuro: Marx –, a filosofia, muito menos ainda, transformou a realidade. O que inclui também e principalmente o próprio idealismo alemão e suas influências hegelianas. Feuerbach, por exemplo, apenas transfere a abstração conceitual promovida por tal filosofia recorrente na época, para uma projeção do gênero humano.
Segundo o autor tão discutido por Karl Marx em sua obra “A ideologia Alemã”, e em específico nas “Teses sobre Feuerbach”, o homem já seria infinitamente universal a partir de si mesmo, contendo em si toda a realidade existente e possível, bem como todas as espécies. Diferentemente de Hegel, a realização se dá no homem e não no Absoluto para Feuerbach, e o mesmo homem se satisfaz na medida em que pode realizar. Logo, o homem não seria mais o predicado de Deus, e sim Deus uma criação humana. Ou seja, há somente a inversão da lógica especulativa de Hegel para um materialismo, também alienado, do sujeito. O argumento Feuerbachiano para criticar Hegel é justamente a alienação enquanto uma abstração projetada fora do sujeito. A essência, pois, defendida à exclusividade unicamente humana como o fez Feuerbach não descartou, contudo, tal possibilidade mesmo de uma auto-alienação, conforme argumenta Marx.
Se o materialismo vigente soava tão teórico quanto o idealismo alemão, como então fundar uma relação política do homem com o mundo, para além de uma abstração religiosa – seja ela individualista ou universal – ou de um materialismo essencialista? Distante tanto de Hegel quanto de Feuerbach neste ponto, Marx articula tanto a essência quanto a alienação enquanto um processo social, não mais de inversão. Processo este materializado na produção econômica, estendido a todas as esferas da vida humana, inclusive à consciência. Numa vasta argumentação durante o seu percurso na obra “A ideologia Alemã”, articulações contrárias desde Max Stirner, Franz Szeliga, Karl Grün, Lorenz Stein, Georg. Kuhlmann, Fitche, Saint Simon, Proudhon etc., associando o idealismo ao individualismo e ainda, ao subjetivismo de Feuerbach, há uma ruptura radical de Marx com o pensamento alemão, e uma introdução sua no estudo de uma economia política, onde o homem se torna agora o conjunto das relações sociais. Termos como essência e fenômeno agora não mais fixados ou sem atividade prática, e dos quais eram confundidos antes com outros termos tais como conceito e existência. Estes últimos que somente dificultaram a capacidade ativa de transformação e práxis, diferenciando e contrariando elementos constituintes da autonomia do ser na realidade. Feuerbach não alcançou tal crítica pois, abstraiu o sujeito de sua história, isolou-o do mundo. Na sétima tese há mais uma causa disso: a essência, para Marx, não é somente natural e fisiológica, nós a constituímos não somente interiormente.
A crítica que antes postulava o conceito por meio de um objeto absoluto, ou o teorizava por meio de uma visão contemplativa das formas, foi desmascarada de cogito para intuição (Anschauring ), pois mesmo que deduzida, é também relativa ao sujeito e uma prática exercida por ele. Nesse viez utilitário e produtivo, portanto, Marx instaura sua prático-crítica. Numa reavaliação do idealismo, o autor também denuncia a subjetividade encontrada nas tentativas universais de abstrações surgidas sempre de uma intuição propriamente humana e relativa a um sujeito. Assim como o materialismo de Feuerbach já o será subjetivo demais por não levar em conta a determinação prática do indivíduo com os seus meios de produção. É somente na realidade circunstancial que o homem tem a capacidade de agir e praticar, intuir. Por esse motivo essa práxis não seria tão somente sensorial como inclusive social, nem ainda uma atividade somente do sujeito.
Já a intuição humanista de Feuerbach não considera nenhum esforço ou característica ativa. Passiva em si mesma, ela é imanente e não negativiza criticamente (aufhebung) um fato, ela somente classifica e regula um dado absoluto, segundo Marx. Pois o faz somente na consciência individual, mesmo quando no sensível não atinge um determinado objeto ou se relaciona com ele. Para Marx, o contato entre a substância é diferente da (Verkehrsformen) afectividade, intercâmbio, troca ou relação entre a matéria.
Até mesmo sobre o fundamento mundano de Feuerbach na quarta tese, Marx argumenta: ao passo que ele saia de si próprio para romper a auto-alienação religiosa já é uma abstração e exteriorização dele mesmo, há uma alienação nisso quando este mundano abrange tal contradição teórica sem fundar-se numa prática que a sustente, e enfim não a aniquile a si mesma e se inclua noutros aspectos tão religiosos quanto a religião por Feuerbach confrontada.
É assim que Marx então, trata da alienação(entäuBerung) enquanto um resultado produzido pela atividade humana na realidade. O que ele traz de novo entre essa idéia de resultado para Hegel e a de humana na realidade para Feuerbach, é esta produção da atividade, ou seja, a práxis. É a necessidade de um esclarecimento econômico frente à ignorância alienada e abstraída, para além do esclarecimento somente teórico, dada pela participação do ser no mundo.
Tal participação implica num método, no mínimo histórico e, no máximo político. Para abranger tanto a crítica quanto a prática, tanto a teoria quanto a matéria, encontra-se a dialética marxista. Em sua terceira tese, ainda mais voltado à política, distancia-se até então de termos filosófico como intuição e essência para dar novos rumos à compreensão e à prática. Com isso, é despertada a relação recíproca entre o sujeito e o mundo, entre sua própria (aufhebung) supra-sunção e essa supressão no real, numa constante coincidência de mudanças (revolutionäre práxis) das circunstâncias e “eliminação prática de situações ou condições pouco adequadas às novas ” .


2) Caberia ainda algum papel à filosofia a partir da redefinição que Marx opera da noção de teoria nas "Teses contra Feuerbach"? Tente descrever algumas de suas características.
Em sua segunda tese contra Feuerbach, Marx anuncia a verdade objetiva como sendo uma experiência prática, um teste e uma prova, não mais uma observação contemplativa e teórica. O que aproxima muito o autor de um patamar científico, quando inclusive associa tal prática à realidade e ao poder. Porém também podemos encarar sua conclusão enquanto filosófica no âmbito de que o pensar se daria somente no real e não deve ser controverso ao mesmo.
O campo do conhecimento humano marxista é exatamente aquele que não distingue ou divide as produções, mas simplesmente as intercambia. Até mesmo as circunstâncias filosóficas aqui foi transformada por Marx. Assim como o mesmo acredita que elas possam ser, pelo homem. A circunstância não seria, pois, superior ao homem, nem tampouco distinta dele na sociedade. Não seria a sociedade ou a filosofia a formadora do homem, mas o homem o transformador dela, na continuidade daquela coincidência entre ambas as direções: a autotransformação e o ato de mudar as circunstâncias ( ou revolutionäre práxis).
“Toda vida social é essencialmente prática” . O que nos parece tratar a religião, a teoria ou o idealismo também enquanto um produto os quais se desenvolvem na prática e, respectivamente, também na sua compreensão posterior. Tanto o egoísta divino (Hegel) quanto o homem egoísta (Feuerbach), como dizia Engels, estão nesse patamar anterior à Marx. Se ele constrói uma filosofia ela já é auto-distanciada das outras filosofias por ele mesmo em sua última tese. Conforme o reconhecimento de divisões e relações não podem se tornar contrários ao homem, assim também supõe acontecer à filosofia quando dividida ou perante suas relações com todo o campo do conhecimento humano:

“E, nesse ponto, tornou-se manifesto, evidentemente, que o desenvolvimento de todos os demais com quem o indivíduo se acha em intercambio direto ou indireto e que as diferentes gerações de indivíduos que mantêm relações mútuas têm entre si uma conexão; que os que vêm depois se acham condicionados em sua existência física por aqueles que os precederam, já que recolhem as forças de produção e as formas de intercambio por eles acumuladas, determinando-se desse modo em suas próprias relações mútuas. Em resumo, evidencia-se que ocorre um desenvolvimento, e a história de um único indivíduo de maneira nenhuma pode ser separada da história dos indivíduos que o antecederam ou vivem à mesma época dele, mas sim é determinado por essa mesma história.”

Contando com esta nova humanidade social, não somente civil, Marx trataria, pois, de uma certa filosofia social, se é que ainda podemos restringir tal estudo somente à mesma filosofia, enquanto uma mera alienada quando separada do mundo. Marx parte do mundo, distancia-se dos filósofos da diferenciação separatista e distanciada, elitizada ou de estranhezas interpretativas fora do comum, ele simplesmente transforma o pensamento deslumbrado e o traz de volta para a sua realidade, retirando alguns esvaziamentos retóricos do pedestal.
“Rebelemo-nos contra o reinado dos pensamentos”


BIBLIOGRAFIA


MARX, K. e ENGELS, F. A ideologia alemã. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
___________________. BACKES, Marcelo. Prefácio. In: A ideologia alemã. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.









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