segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

seminário: cap. 37, 38 e 39 de O GUIA DOS PERPLEXOS, Maimônides.

03/11/2011
UNIFESP – Guarulhos

História da Filosofia Medieval Judaica

Prof.a: Cecília
Aluna: Cristilene Carneiro da Silva, Filosofia – noturno

SEMINÁRIO SOBRE O GUIA DOS PERPLEXOS, DE MAIMÔNIDES
CAPÍTULOS 37, 38 E 39:

37 – A EMANAÇÃO DIVINA SOBRE AS FACULDADES IMAGINATIVAS E MENTAIS DO HOMEM ATRAVÉS DO INTELECTO ATIVO
§1 - A natureza essencial da emanação divina (o intelecto ativo) projetada sobre a nossa inteligência tanto somente em potência quanto em ato (que a faça aperfeiçoar-se e também aos outros). Graus de perfeição: alguns possuem somente para si mesmo, outros para incidir sobre outras pessoas.
§2 – Como se dá tal gradação de perfeição: Há 3 tipos de casta nesta projeção – 1ª é quando a mesma emana unicamente sobre a parte racional (Maimônides difere aqui a imaginação da razão), seja porque a emanação(vontade divina) é insuficiente ou porque a faculdade imaginativa em sua formação é incapaz de recebê-la. Estes que são atingidos pela parte somente racional são os sábios especulativos (continuando a comparação entre o profeta Moisés e os outros). A 2ª é a casta dos profetas: a emanação se insere tanto no racional quanto no imaginativo, pelo fato de sua inteligência possuir a perfeição suficiente. E a 3ª seria aquela que ocorre apenas na imaginativa, sem a intervenção racional seja por deficiência inicial ou por falta de estudo. São os “incultos” com potencialidades de visões, adivinhações, sonhos, inventores de leis e ordens artificiais e as vezes até milagrosas também, porém ilusórias e confusas por não se tratar da verdade (dada pelo razoável juntamente com tal ato imaginativo). Logo, o que deve estar no ato profético verdadeiro é tanto a razão quanto a imaginação em ato, sem uma ou outra apenas em potência. Potência seria então aquilo que existe no homem mas ainda não foi emanado pelo Intelecto Ativo de Deus, por não estar devidamente preparado ou não ter sido escolhido. E ato a faculdade desenvolvida e projetada exteriormente: os sábios especulativos ensinam, os imaginativos adivinham mas apenas o profético conhece no sentido verdadeiro.
§3 – Esta diferença entre potência e ato influencia nas três situações da emanação divina sobre o homem. Ela diferencia o para si do para o outro, ou a simples recepção introspectiva da pluralização comunicativa de tal recebimento. O ato é sempre o que age sobre o outro, tal como, mesmo que hierarquicamente, o faz a própria atividade do intelecto divino sobre os profetas. Assim ele é aproximado neste parágrafo à própria perfeição. E no decorrer do desenvolvimento o autor explicará esta palavra que ele mesmo grifa enquanto “influência” como participante da “inspiração”:
§4: “É evidente que, sem esta perfeição a mais, os livros não seriam escritos, nem os Profetas teriam imbuído os homens do conhecimento da verdade. Porque o sábio não escreve nada para si mesmo com a finalidade de se doutrinar no que já sabe, mas sim porque, na natureza de seu intelecto, existe o ato de emanar continuamente e irradiar sucessivamente esta emanação de um indivíduo a outro, até encontrar aquele que pode se aperfeiçoar através desta Emanação, sem, no entanto, ser capaz de transmiti-la a outros.”
§ É isto que caracterizará então essa inspiração citada: a exteriorização do intelecto ativado enquanto necessária por se tratar de um ato influenciado pela emanação divina, ou seja, pela unicidade.
38 – A CORAGEM E A INTUIÇÃO ATINGEM O GRAU MAIS ALTO DA PERFEIÇÃO NOS PROFETAS
Detalhamento de como se e porque se dá a perfeição nos Profetas:
§1: Por meio da faculdade da coragem, que varia de intensidade, energia e situação diferentes.
§2: Por meio da faculdade da intuição, qua também varia de acordo com as circunstâncias principalmente temporais (“anteriores, posteriores e atuais”). É quando o intelecto deduz recorrendo a tais circunstâncias instantaneamente e num curto espaço de tempo. Exemplifica-a com as previsões de futuro.
§3 e 4: A síntese da coragem e da intuição fortificadas dão à estrutura profética a perfeição “autêntica” que “ a razão humana, por si só, não poderia compreender.” É a inspiração que age sobre a percepção e influencia a imaginação a chegar ao conhecimento também razoável da realidade, por meio de provas e juízos imparciais, e não especulativos. Nesta direção atua a intuição. Também pelo inverso acontece o aperfeiçoamento das coisas percebidas: a partir da faculdade racional advém-se a imaginativa por meio do esforço e da busca corajosa. Mas é a vontade divina quem decide essa ruptura do modo convencional de raciocínio lógico, ainda não predominando, portanto, nem uma faculdade nem outra a não ser a partir de uma causa primeira.
§5 : Eis a diferença entre essa autenticidade que conecta a intuição e a coragem conjuntamente, daquela que confunde-as sem razão a não ser quiméricas e pessoais ou em potência, como denota ser o caso da terceira casta. Maimônides diferencia os dois caminhos bem explicitamente: o autêntico é ato de unicidade, de inspiração exterior. Já o quimérico é particular e pessoal, parte de um desejo introjetado em si mesmo , em potência porém não em ato intelectivo, num ato no máximo apenas imaginativo. Exemplo do homem que possuía muitos animais e perdeu os outros, esquecendo-os e lembrando somente do que restou enquanto uma lógica sem considerar a circunstância temporal da intuição nem a busca pelo entendimento além do perceptível. Uma possível alusão à Noé?
§6: Por último o autor insiste então na importância do intelecto enquanto algo crucial que separa e esclarece as confusões imaginativas: para haver perfeição é preciso que o intelecto esteja em ato, seja nos sábios especulativos ou nos profetas autênticos. A imaginação sozinha não é considerada uma profecia, nem um intelecto somente em potência e isolado de um poder cognoscível superior. Conclui-se que a evidência só pode ser prescrita ao entrar em contato com a emanação divina e uma. Uma constatação a partir de si ou do homem não é válida enquanto racional, mas no máximo enquanto intuitiva. É por isso que os sábios especulativos ainda são mais considerados na hierarquia da casta descrita: eles possuem o intelecto em ato, mas não a imaginação. O que não exclui esta última como necessária na profecia, porém dependente da intelecção:
“E venhamos a ter um coração sábio(salmo 90:12), é que o verdadeiro Profeta é aquele que tem um coração sábio.”
39 – MOISÉS FOI O PROFETA MAIS APROPRIADO PARA RECEBER E PROMULGAR A LEI IMUTÁVEL. OS PROFETAS QUE O SUCEDERAM APENAS A ENSINARAM E EXPLICARAM
§ 1: Aproximação da profecia de Moisés à lei e ao conhecimento demonstrativo e escolhido como foi dito antes. Hierarquização também no entendimento da voz de Deus. Apenas Moisés compreendeu-a em palavras e as ditou enquanto mensageiro das mesmas. Mesmo que os outros profetas tenham recebido a emanação divina, nenhum deles falou diretamente sobre preceitos morais, necessários e evidentes em nome do que o foi pedido por Deus. Maimônides argumenta que nenhum outro implorou apeladamente a obediência à sabedoria ditada e certa sem maiores parábolas ou metáforas secretas e especulativas. Os outros não declaravam que conheceram ou falaram com Deus, mas foram testemunhas e predicados presentes, de certa maneira, à experiência de vivenciá-lo. Como se Deus não tivesse se dirigido direta e completamente a eles, mas apenas por meio do intelecto. Em outras palavras, somente Moisés seria o que Maimônides denominou de profeta autêntico.
§2: Desenvolvimento do motivo pelo qual não houve nem haverá mais outro profeta como Moisés: “quando uma coisa se apresenta como a mais perfeita de sua espécie, qualquer outro ser dessa espécie que se desviasse dessa medida pecaria por excesso ou por falta.” Por trás da interpretação há a concepção de justiça não enquanto o que equivale e iguala na mesma medida quantitativa, mas aquilo que se é por princípio imutável e não é conduzido à “voracidade ou à leviandade”, ou ainda, o perfeito não é abalado por vícios maléficos. Cabendo, com isso um único modelo de perfeição e que não mude com o tempo, assim como o é a própria concepção de criação.

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