segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Rousseau, Nietzsche, Foucault, Deleuze e Guatari na educação

FILOSOFIA E EDUCAÇÃO NO MUNDO MODERNO
ALEXANDRE FILORDI DE CARVALHO

PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO

CRISTILENE CARNEIRO DA SILVA (e-mail: tilenecarneiro@gmail.com)
FILOSOFIA – NOTURNO – 8º TERMO

2) Um dos problemas centrais que o pensamento de Rousseau trouxe para a educação é a relação entre a educação do indivíduo e a sua presença e o seu papel na sociedade. Pode-se dizer que tal diagnóstico continua atual. Explique por quê.

A relação rousseauniana entre indivíduo e sociedade já mantem um liame muito peculiar no que diz respeito à possibilidade de uma educação livre. Porém o filósofo nos dispõe algumas condições para uma educação natural e negativa por meio do amor de si e da perfectibilidade. O indivíduo social de Rousseau mantem-se em relação por meio de contratos, ao mesmo tempo que também é auto suficiente para manifestar a espontaneidade de sua própria natureza. A problemática da educação em Rousseau seria tal reconciliação do homem com a sua natureza. Por isso o autor toma como ponto de referência a infância, no caso Emílio, e examina cuidadosamente este processo de formação do homem livre na sociedade castradora das vontades individuais.
Assim como o individualismo é uma regra social hoje, pode-se comparar o dilema entre a coerção da vontade geral e a vontade de se isolar para as libertar as potências naturais das paixões humanas. Porém é o amor de si quem liberta essa dominação da educação repressora para uma permissibilidade espontanea de aprender, no caso da individualidade de Rousseau. Já esta propagação atual de um individualismo que desconsidera tanto a coletividade efetiva quanto as singularidades humanas é ainda pior e menos resolvido, com disposições escolares que prendem o ser ao uniforme e artificial, à falsas referências naturais do indivíduo, à uma pressão social que não se prepara para tipos determinados de formação nem para determinados tipos de sociedade, mas simplesmente a generaliza estagnando a espontaneidade defendida por Rousseau. Desde as apostilas escolares até os métodos de avaliação denotam uma exclusão cultural que já em Rousseau se evidenciava, hoje mais ainda. A criança precisa primeiramente se amadurecer a ponto de livremente escolher ser educada, segundo o pensamento de “Emílio”, e não o contrário como tem ocorrido até hoje: ela ser educada a ponto de coercivamente ser obrigada a ser criança, sem maiores autonomias.

5) Explique como o poder crítico do pensamento de Nietzsche trouxe novos desafios para se pensar o campo da educação e a sua relação com a constituição da sociedade?

A educação para Nietzsche será sempre valorativa e homogeneizante, domesticando a criação potente do indivíduo quando produz verdades curriculares. A própria cultura é detecta enquanto um impecílio senhoril e redutor. Os impulsos se condenam na história da cultura e da civilização, numa perspectiva padronizada de formar alienações nos valores, mesmo que procedentes, há sempre uma hierarquia do sujeito submisso às próprias condições e vontades de potência, abrindo mão de si mesmo para ser parte de uma obediência ou de uma governabilidade. Ou seja, o homem é um animal domesticável, seja quando ensina, seja quando aprende. Lobo ou cordeiro, escravo ou senhor, somos valorativos e implicamos algo com o que estimamos. Conhecer e ser reconhecido é uma moral criadora do próprio sujeito. Neste sentido pensar numa autoridade que manipule as variadas interpretações numa sala de aula é desumano para Nietzsche, cada um teria a sua respectiva verdade de acordo com as próprias necessidades e circunstâncias, numa relação de troca mais do que de registros.

8) Por que o pensamento de Foucault tornou-se um forte aliado crítico às estruturas da escola contemporânea e por que o seu pensamento é instrumento atual capaz de provocar novas ações e atitudes no campo educacional?

Pois o posicionamento da educação enquanto uma condutora política, feito pelo autor, fez com que o poder disciplinar fosse distribuído não apenas produtivamente, como também por tudo que se refere ao corpo político da educação. Como é o caso do tempo, por exemplo, o qual quando respeitada a naturalização dos processos disciplinares, traz consigo uma organização das geneses para além das práticas pedagogicamente econômicas, ou em outras palavras, repetitivas e maquinárias. Claro que a ruptura com o olhar hierárquico de vigia e perseguição, a sanção cada vez mais normalizante das micro-penalidades e o exame em forma de dociês de exclusões e castrações são criticados por Foucault e detectados na estrutura contemporâneas. Tais constatações e apontamentos foucaultianos colocam em xeque a contradição da educação atual presa ao tempo de produção, ao tecnicismo e à alienação e nos leva para um patamar outro que não a ordem econômica vigente, sendo praticamente o oposto à educação cabível nesta sociedade.

9) A análise empreendida por Deleuze e Guatari da produção de rostidade na sociedade afeta diretamente a escola. Explique como a escola se torna uma máquina de rostidade e o que isto implica para as diferenças e as singularidades humanas.

A partir da produção de diferenças padronizadas em morais segmentárias, o homem perde seu fluxo de força e, também se instabiliza com a vulnerabilidade trazida por tal produção de subjetividades agendadas. O que Deleuze e Guatarri anunciam é esta redundância entre as singularidades e as objetividades sociais. O fluxo de forças são flexíveis, ou inflexíveis e rígidos ou centros de significancias que, sozinhos, culminam na alienação. Logo a instância micro- macro é aderida num entorno onde o ser é ontologicamente político, por necessidade. Ser tal quem significa, estabiliza os sentidos, identifica e ricocheteia, dando rosto às coisas. A própria rostidade se confunde com este ser, nesse sentido: ela é a censura, o limite, a definição. Seria muito pois, a chamarmos também e, por que não, de educação?
Nesta rostidade, como se vê, implode-se a noção de apreensão dando vazão à uma punição e bloqueio, o muro denunciado no livro de Deleuze. A crise na educação atual também sofre embate neste muro, ao não atravessar a definição ou vazar esta muralha gigante para além dos muros da escola. Não é à toa que o “buraco negro” será a saída dos autores, onde se permeia e possibilita um estado crítico e de olhar atravéz daquilo que se esconde por trás, daquilo que é impostamente diferente, mas por dentro das singularidades se encontram perdidos e vazios, tal como a situação encontrada em cada atitude agressivamente violenta e abismável de alguns alunos hoje.

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